Pinheiro: o meu paraíso perdido

Poesias

José Geraldo Wanderley Marques

Ainda Voam as Borboletas

Neste domingo de granito
Ainda migram as borboletas
Cortando em dois fragmentos
O bairro do Pinheiro
Com o seu rastro amarelo

É como um cortejo funereo
Em busca de um novo horizonte
Revisito a paisagem bela
Que se me dá na janela
Como um último presente

Meu coração se dissolve
Por causa dos calados gritos
E sai em lágrimas copiosas
De fel, salgema, silício...

Vou seguir as borboletas
Nós seus vôos de migrantes
Também cortado em dois
Entre o futuro e o agora

Tudo cheira a ontem já:
A alcova do casamento
O quarto do berço dos filhos
Os poemas de amor e morte
Nas madrugadas escritos
E os mais belos crepusculos
Impossíveis de descrever!

Nego-me a dizer adeus
E não quero ser consolado
- Pois agora estou granito!
Prefiro sorver toda a taça
Deste vinagroso liquido

Peço apenas que a parca
Termine a métrica exata
E não prolongue a agonia
Com um outro fio tecido!

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