Depoimento de um usuário da classe econômica
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Em qualquer parte do globo, embarcar em avião lotado é quase como participar de uma coreografia onde todos carregam malas, mas que ninguém ensaiou.
Tudo começa ainda na área de embarque, com passageiros trombando para ver quem entra primeiro, como se o comandante fosse dar partida sem eles.
Já a bordo, caótica é a cena: Gente se contorcendo nos corredores apertados, tentando empurrar seus pertences no espaço acima dos bancos, enquanto outros simplesmente lançam olhares de indignação como se fossem os donos do aeroplano.
O auge do show? A briga silenciosa pelo apoio de braço. Quem vence? Nunca é você. Mas pelo menos, enquanto observa o caos, dá para rir um pouco.
Finalmente com todos já acomodados, o esclarecimento de segurança feito pelos comissários é sem dúvidas, exibição subestimada, verdadeira peça de teatro sem plateia, drama épico onde a máscara de oxigênio é protagonista e o cinto de segurança, fiel coadjuvante.
Porém o ápice da apresentação acontece quando surge o aviso de que o colete está debaixo da poltrona, porém em caso de necessidade, só deve ser inflado “fora da aeronave”, momento em que os poucos ouvintes pensam: Fora da aeronave? Se eu cheguei “fora”, já sou um anjo com asinhas e tudo, para que usar colete!
Ah, o momento em que o avião pousa e o sinal de “afivelar os cintos” se apaga! É como se um gatilho coletivo fosse acionado: De repente, metade dos passageiros levantam em balé descoordenado, mesmo sabendo que ninguém vai sair dali tão cedo.
Enquanto isso, alguns continuam sentados, observando o caos e se perguntando: “Será que tem um prêmio para quem sair primeiro?” E é claro que há o festival dos compartimentos de bagagem: Indivíduos se esticando, derrubando casacos e mochilas na cabeça dos vizinhos, tudo para pegar aquela mala que não precisava ser retirada tão cedo.
E o ápice da comédia? Quando o piloto anuncia: “Senhoras e senhores, por favor, permaneçam sentados até que as portas estejam abertas”, como se fosse adiantar, porque afinal, a pressa de sair do avião é proporcional à agonia de ter que esperar na esteira por suas maletas.
VIAJANDO DE AVIÃO
CrônicasPor Alberto Rostand Lanverly Presidente da Academia Alagoana de Letras 09/02/2025 - 19h 59min
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