Outro dia, fui ao Mercado da Produção em Maceió, desenvolver mais uma das inúmeras atividades profissionais, às quais tenho dedicado muito de minha força de trabalho, desde quando encerrei as atividades como docente da Universidade Federal de Alagoas.
Enquanto esperava o inicio das atividades programadas, sentado em caixa de maçãs, fiquei espiando os circunstantes.
No outro lado do salão, bem à minha frente, uma mulher, vestindo multicolorida saia comprida, blusa tipo “o defunto era menor”, alguns números menores que o seu, umbigo a aparecer, trazendo na cabeça, pitoresca touca à moda Chapeuzinho Vermelho, cobrindo-lhe banda do rosto, servia alimentos aos fregueses: galinha guisada, mocotó, ovos fritos, pão assado e leite pingado, gostosuras que faziam a festa de todos, inclusive de um cachorro, saltitante vira lata, que logo descobri chamar-se Corisco, deliciando-se com ossos lhes oferecidos pelos comensais.
Analisando os presentes, distingui três tipos de personagens:
Um homem cético, a cada palavra pronunciada parecia “cuspir ironia e pessimismo”;
Outro, sentado sobre uma das pernas, mais escutava, porém quando necessario, articulava termos repletos de coerência;
E finalmente um personagem conversador, envolvente, alegre, ali tomando seu desjejum, trazendo sorriso como companheiro, constantemente elogiando a tudo e todos, visivelmente esforçando-se a deixar transparecer estar de bem com a existência.
Seguindo meus pensamentos, constatei ser a vida sapiente, e embora durona, nossa principal escola, verdadeiro aprendizado, levando-me, cotidianamente, a relembrar memorável frase de um de meus professores Marista, quando ensinava:
“meus alunos, se tiverem amigos escrevam seus nomes com lápis, conservando sempre uma borracha ao lado para, se necessário usá-la, principalmente nos momentos de dificuldade”.
Os minutos passaram e chegou a hora de iniciar o trabalho motivo de minha presença no local, cumprido em pouco mais de sessenta minutos.
Tempo curto, embora suficiente para vivenciar verdadeiro aprendizado, pois como representante do Magistrado, cabia-me ouvir pessoas para, posteriormente, elaborar laudo técnico capaz de subsidiar a formatação de uma sentença.
Cada interrogado expressara sua verdade que, diga-se de passagem, foram diametralmente opostas.
Saindo daquela casa, não esqueci as três criaturas, que, tenho certeza, nem perceberam minha presença.
Todavia, ousei imaginar ser assim a vida: cheia de ciclos, com uns terminando onde outros começam, estando nós aqui, para aprender.
Eu próprio, apesar de me considerar um otimista, ouso acreditar estar ainda muito longe o dia em que vivenciaremos um Brasil regenerado, com homens de bem enfeitando, em todos os níveis, postos chaves de nossa comunidade, assim como os coqueirais de nosso litoral o embelezam
TRES HOMENS: CÉTICO, CALADO E ALEGRE
CrônicasPor Alberto Rostand Lanverly Presidente da Academia Alagoana de Letras 08/04/2024 - 23h 58min
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