Nossa vida encontra-se sedimentada em emoções renovadas a cada instante. São informações, às vezes portadoras de alegrias mas que, também, a depender da situação, nossos olhos e ouvidos absorvem, de forma tão brutal que dali o sangue parece jorrar.
Quando a cor de prata vai calmamente se esparramando nos cabelos, o ser humano imagina já ter amealhado experiência suficiente para saber um pouco de quase tudo, principalmente se somos brasileiros que, se por um lado acreditamos no país onde vivemos, por outro estamos convictos de ser preciso muito amor à pátria para, de forma categórica, possuirmos preocupação à forma como a mesma vem sendo gerenciada nas últimas décadas.
Recentemente assistia ao noticiário nacional, quando presenciei um índio, utilizando o arco que trazia nas mãos, disparar flecha contra policial armado com moderno fuzil taurus.
Em época da cibernética, dos drones e das armas químicas, imaginei que ocorrera uma pane em meu aparelho de televisão e, de um momento para outro, filme antigo ocupara a tela. Infelizmente logo constatei que aquele fato acontecera em Brasília, capital da nação.
Terminados os informes, deitei-me na varanda e enquanto admirava o céu, todo estrelado, oferecendo baita visão à noite, confesso haver ficado perdido, olhando para o alto, com a impressão de que estava caindo, só que de baixo para cima, no imenso abismo do escuro infinito sobre mim.
E a figura do desigual embate entre o selvagem e o militar não deixava minhas retinas.
Nos idos de 1500, época da chegada dos desbravadores a nosso país, o convívio dos nativos com portugueses foi relativamente harmonioso.
Os tempos passaram... Hoje, por culpa dos próprios governos que se sucedem, os aborígenes vêm sendo paulatinamente exterminados.
Vivendo, na sua maioria, em pedaços de terra sem a mínima estrutura, ganhando a vida coletando migalhas de uma FUNAI que, como quase todo órgão público nacional, deixa muito a desejar, não lhes oferecendo a dignidade que merecem.
A flecha lançada pelo indígena, contudo, é emblemática, deixando claro que o povo brasileiro está, cada vez mais, entregue à própria sorte.
Quando se imagina haver visto de tudo, aparece um doleiro depositando milhões nas contas dos que gerenciam a nação, enquanto autoridades se consideram intocáveis, negligenciando tomadas de decisões que venham, definitivamente, retirar o Brasil da época do faroeste, onde caciques e pajés eram figuras de destaque na luta contra a cavalaria.
Tudo isto fortalece uma casta de inconsequentes, bloqueando estradas, queimando ônibus, estuprando e transformando em prisioneiros a grande maioria de racionais que só quer viver sem medo, tendo respeitado seu direito de ir e vir.
Uma coisa é certa, os olhos sintomáticos de pessoas más que ditam as regras, me arranham e incomodam.
Após muito pensar, a figura do índio me deixou, virou-se e foi embora, dissolvida na escuridão.
Só assim, tive forças e energia positiva para me inteirar das outras novidades promovidas pelo traquinos, que aí estão, envidando esforços para enfraquecer os pontos positivos de nossa história.
O que me deixou feliz e realizado, foi enxergar a partir de alvissareira notícia, que o renomado líder indígena Ailton Krenak, munido de sua escrita poderosa, passou a ocupar a cadeira de número cinco, da Academia Brasileira de Letras, oferecendo ao Brasil a oportunidade de mostrar ao mundo, ser a cultura, a mais importante arma de uma sociedade, descortinando perspectivas únicas e profundas sobre desafios enfrentados pelos povos originários da nossa terra.
A FLECHA DO ÍNDIO
CrônicasPor Alberto Rostand Lanverly Presidente da Academia Alagoana de Letras 14/04/2024 - 21h 32min
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