CARTAS QUE NÃO SÃO MAIS ESCRITAS

Crônicas

Remi Bastos

Mensagem:

Quando o carteiro chegou,/ E o meu nome gritou,
Com uma carta na mão./ Ante surpresa tão rude,
Nem sei como pude/Chegar ao portão.

Vendo o envelope bonito,/E no subscrito eu reconheci,
A mesma caligrafia, que um dia me disse:
Estou farto de ti.

Porém não tive coragem/De abrir a mensagem
Porque na incerteza, /eu meditava e dizia:
Será de alegria? Será de tristeza?

Tanta verdade risonha
Ou mentira tristonha, /uma carta nos traz...
Assim pensando rasguei, sua carta
Queimei, para não sofrer mais.

Foi inspirado nesta canção cantada por muitos artistas da voz, em especial por Isaurinha Garcia, que imergi no tempo do romantismo, das promessas, das confirmações e até mesmo das desilusões amorosas assinaladas e transportadas nas asas da missiva.
Vivemos hoje em um mundo onde a surpresa deixou de ser surpresa e o desejo da notícia não é mais um desejo, tudo acontece repentinamente e na simplicidade. Ah! Foi - se o tempo em que receber notícias de alguém significava algo de especial e apreciativo, a emoção e o sigilo faziam parte desse mistério de sentimentos. Quantas cartas recebemos, de um amigo ou de um parente distantes, da namorada que residia em outra cidade, ou mesmo, pela expectativa e ansiedade que experimentávamos no aguardo do resultado de um concurso ou resposta de um emprego que seria revelado nas correspondências que tardariam a chegar? Ainda tenho guardado junto aos meus alfarrábios as cartas que recebi da namorada e dos amigos Mindinho, Motorzinho e Reginaldo. Às vezes quando lembro aquele tempo, tento esvaziar a saudade lendo suas cartas escritas num português que somente nós entendíamos. Atualmente os instrumentos eletrônicos virtuais simplificaram a distância e amenizaram a saudade, reduzindo tudo a um ponto real. Um tio meu, irmão de minha mãe, contava-me de sua viagem de mudança de Maceió para o Rio de Janeiro em 1950, feita por navio, e das cartas que enviavam para minha avó materna, as quais levavam até vinte dias para chegarem ao seu destinatário. O carteiro era o instrumento veicular da notícia, e muitas vezes as donzelas se debruçavam ao muro ou a janela esperando o carteiro passar trazendo novidades. Mas, infelizmente esses momentos já não existem mais nos dias de hoje com a mesma intensidade de antes, o carteiro passa sem trazer aquela carta tão esperada e perfumada que o tempo guardou. Foram-se as cartas, já não são mais escritas, restaram apenas as lembranças de seus conteúdos divertidos, amorosos e sigilosos.

Aracaju, 06/03/2013.

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