ESTAR COM... ESTAR SÓ!

Pe. José Neto de França

“É ficando sozinho que se vê que tipo de pessoa você é!”
(Serie 1899 da NETFLIX)

Assistindo a Série: “1899”, a afirmativa dita por uma de suas personagens acionou um dos gatilhos de minha memória, fazendo-me pensar...

Não é na interatividade com os outros que, mostramos quem realmente somos?

De fato, sim, mas como um reflexo de nossos atos. Enquanto agimos dentro do coletivo, tanto nós, quanto os outros tomamos atitudes e as executamos, despertando acionando initerruptamente gatilhos dentro de nós. E, por uma necessidade existencial natural ou instintiva, em meio a essa complexa interação, todos nós, os envolvidos na situação atual vivida, descobrimo-nos a nós mesmos, colocamos em evidência nossas potencialidades conhecidas ou até então desconhecidas. Dessa forma, também nos revelamos a nós mesmos e, não poderia ser diferente, os outros, também, se revelam a nós.

Já quando a pessoa está só, tipo “eu comigo mesmo”, é totalmente diferente. Ninguém está a lhe instigar, confrontar. Nenhuma situação está sendo criada por fatores físicos/temporais externos a ela. Mesmo o mundo fora dela, o exterior comum a todos, parece não querer interferir em suas reflexões particulares. O mundo dominante nesses momentos é seu mundo interior, aquele criado por ela mesma a partir de sua liberdade, decisões... com todos os seus conceitos, preconceitos, manhas, valores, contravalores... É, simplesmente e tão somente o seu “eu”!

Humanamente, nesses momentos, a pessoa é para ela mesma protagonista, antagonista, herói, vilã, juiz, réu, o bem, o mal [...]

É nesse momento que a fala da personagem da Série “1899” está correta quando afirma que “é ficando sozinho que se vê que tipo de pessoa você é!”.

A grande diferença entre estar coletivamente ou só é que nem sempre nos assustamos quando agimos de forma atípica quando estamos interagindo em meio aos outros. Mesmo quando nos atemorizamos, é bem relevante. Aliás, gostamos imensamente de estar com o(s) outro(s).

Já quando se está só, como não há ninguém para projetar em muito o que a pessoa é, por vezes ela “medo” de se entregar aos seus próprios pensamentos, demonstrando insegurança, falta de confiança em si. Por vezes, quer é fugir de estar só, como se pudesse “fugir de si”. Tanto porque, a pessoa sozinha, pode abrir portas, como disse o personagem Will Graham da Série Hannibal, “há lugares dentro de si mesmo que ele não pode ir em segurança!”.

Mas não deveria ser assim. É um excelente momento para a pessoa refletir sobre a sua autoestima, autocontrole, segurança [...], percebendo nessas horas o quanto ela é importante para ela mesma e para os outros. Momento propício para descobrir coisas importantíssimas sobre ela que poderão ser colocadas posteriormente em prática de forma saudável na vida social. É nessa hora que a pessoa se auto revela como a maior amiga e ao mesmo temo a pior inimiga de si mesma. Isso porque é ela quem toma suas decisões, orienta a sua vida para onde e para o que quiser [...].

Enfim, recolhida a sim mesma a pessoa acaba por descobrir que a companhia mais confiável e perfeita se é que assim possa afirmar é ela própria. Logicamente que não se pode sobreviver sem os outros. Mas isso será tema para outro texto...

Importa que jamais desprezemos as companhias do dia a dia; os outros, nossos amigos!

Enigmas da vida!

[Pe José Neto de França]

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