Não ter foco se tornou a principal crítica à multidão que foi às ruas em 2013. De lá para cá houve pequenas manifestações, mas nada impactante, como foi a de domingo, 15 de março de 2015 que, agora, padece pelo excesso de reivindicações. Fala-se em foco errado, grupos difusos, terceiro turno. Governo e oposição fazem a análise que melhor lhes convém à defesa dos seus ideários.
Acusam o povo de ser alienado por atender à convocação e de ter a consciência de quem vai a uma festa. Como se fosse possível qualquer tipo de agrupamento humano sem alguém para puxar e organizar. A adesão de milhões só ocorreu porque o povo está saturado, com sede e muita vontade de externar seu repúdio ao modelo de gestão administrativa, no momento representado pela presidenta Dilma Rousseff.
Não se trata de reprovação apenas à presidenta. Ela torna-se o alvo principal por ter sido eleita recentemente com um discurso totalmente inverso às suas ações, mas o povo está descontente com os agentes públicos em geral.
Ainda que algumas pessoas não se predisponham a ir às ruas, todos gritam internamente por melhorias na Saúde, Educação e Segurança, tendo em vista serem as áreas genericamente mais relevantes. No entanto, o leque de insatisfação é muito maior. Ninguém desconhece que as estradas, ruas e calçadas estão em estado de calamidade. Assim como hospitais, postos de saúde, rede de esgoto, saneamento básico em geral, rios poluídos, transporte público e tudo está em calamidade e de conhecimento público há décadas. São tantas as carências, que dificulta a vida do cidadão comum fazer suas preferências.
Não há contestação quanto a insatisfação ser generalizada. E nenhum político deve apontar o dedo já que vai sobrar para todos à medida que a população perceber que as autoridades só se coçam quando ela vai às ruas. Há muitos perigos nessa travessia.
Alguns jornalistas criticam as pessoas por não se fazerem presentes em reuniões e debates nas casas legislativas. Uma falácia mais maldosa do que ingênua. As pessoas trabalham, estudam e têm suas obrigações diárias. Não têm tempo de sobra para tutelarem as decisões dos parlamentares. É como se a ausência autorizasse a praticarem suas estripulias com o dinheiro público.
É presumido que estejam capacitados a desempenharem as funções para as quais foram eleitos. Deve haver vigilância e cobrança sempre. Mas a ausência do público não pode servir de justificativa para os equívocos cometidos, quase sempre de forma deliberadamente proposital.
Milhões de pessoas nas ruas num domingo não foram suficientes para evitar que os partidos triplicassem o repasse do fundo partidário, que, de nenhuma forma deveria existir, devido aos partidos se constituírem como pessoas jurídicas de direito privado como qualquer outra.
Para piorar, querem aprovar o financiamento público de campanha, já que o culpado pela corrupção é o financiamento privado, não os corruptos e corruptores. É a chamada corrupção das políticas pública. Para acabar com essa corrupção legalizada, as manifestações precisam ser intensificadas e com longas pautas de reivindicações.
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