CÍCERO AMORIM

Djalma Carvalho

Quando me disponho a escrever sobre amigo e amizade, logo me vem à lembrança o especial trecho da composição musical de Milton Nascimento, intitulada Canção da América, que diz: “Amigo é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito, dentro do coração.”
Sempre apreciei a noite alagoana para ouvir boa música, beber alguma coisa e dançar, hábito que carrego comigo desde o meu tempo vivido em minha santa terrinha, Santana do Ipanema.
Era para mim curioso o modo doce e romântico como dançava um casal assíduo à boate da Churrascaria Stella Maris, na Jatiúca, e ao jantar dançante do então Restaurante Vitória Paladares, no Barro Duro, aqui em Maceió. Nesse jantar dançante, conheci o animado casal. Ele a contar suas andanças como representante comercial, cobrindo os estados de Alagoas, Pernambuco, Sergipe e Bahia, e eu a dizer-lhe que tinha Santana do Ipanema como minha cidade natal, lugar onde ele conhecia muita gente. Muito proveitosa a conversa havida, porque a partir daí começamos a construir uma saudável e duradoura amizade.
Cícero Nunes Amorim e Dona Terezinha Ferreira, a esposa, formam um casal perfeito. Ele, de boa cultura, intelectual. É estudioso da língua portuguesa e sabe muito bem colocar a vírgula no seu devido lugar. Homem de fala mansa, cortês, educado, atencioso, sincero, honesto e solidário com os amigos. Ela, o amor de sua vida e companheira de todas as horas, mulher alegre, determinada, comunicativa, educada, gentil, também solidária com os amigos.
Depois de mais de 20 anos de efetivo trabalho como representante comercial (ramo de laboratório) e mais tantos outros anos como representante da antiga Mesbla e de estabelecimentos do ramo de escritório e refrigeração, Cícero Amorim aposentou-se. Ensarilhou as armas, afinal, em 2010. Com certeza, guardou muita história para contar, a par da beleza da paisagem nordestina, da cultura e dos costumes da gente que conheceu. Histórias para encher livros de crônicas, contos ou romance.
O filho de Murici, nessas suas andanças a trabalho por esse pedaço de Nordeste também viveu a boa vida de boêmio e namorador. Não dispensava um rabo de saia em derredor nem uma visita ao cabaré de cada cidade.
Como bebedor de conhaque marca Castelo, Cícero Amorim era conhecido pelo apelido de Cícero Castelo. Somente apreciava conhaque e cachaça. Sofreu muito com a bebedeira e como fumante. Em 1988, porém, conheceu a entidade chamada Alcoólicos Anônimos, salvadora de vidas. Totalmente recuperado, passou a dar palestras sobre alcoolismo em colégios, presídios e hospitais psiquiátricos e conceder entrevistas a rádios. Na Polícia Militar de Alagoas, por exemplo, foi condecorado por serviços prestados à corporação. Belo trabalho voluntário por ele prestado à comunidade de Maceió, com o qual salvou muitas vidas e devolveu à sociedade pessoas que se livraram dos males do conhecido vício.
É portador de comenda que lhe foi outorgada pela Academia Maceioense de Letras. Esteve presente, acompanhado de Dona Terezinha, a festas de lançamento dos meus livros publicados. Igualmente, para minha grata surpresa, esteve presente à festiva noite realizada em Santana do Ipanema, faz algum tempo.
Na Internet encontrei a seguinte frase, de autor desconhecido: “A vida não será a festa que todos desejamos, mas enquanto estivermos por cá, devemos dançar.”
Cícero Amorim “é dançarino por natureza”, como costuma dizer Dona Terezinha. Mesmo na fase outonal da vida, não deixa ele de frequentar, aos sábados, a boate do Restaurante Panorâmico no 6º andar da Casa da Indústria, no Farol, para, animadamente, dançar e abraçar os amigos. Sempre, eu e Rosineide, encontramos o simpático casal por lá.
Contou-me, finalmente, Dona Terezinha um fato pitoresco acontecido com Cícero Amorim, seu marido. Aconteceu em São José dos Campos, São Paulo, onde se encontravam, a serviço, ele e um colega de trabalho. Ficaram hospedados no mesmo hotel. À noite saíram para beber e dançar, retornando, ambos, muito tarde. O colega teve que viajar logo cedo. Cícero Amorim, entretanto, acordou mais tarde, urinado. Daí, para evitar quaisquer constrangimentos, simplesmente trocou o enxoval e o colchão da cama dele pelo da cama do colega. De início, seu companheiro de viagem não gostou da molecagem, mas, depois de boas risadas, continuaram amigos.
Parabéns aos amigos Cícero Amorim e Dona Terezinha Ferreira!

Maceió, março de 2015.




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