Encontrar emprego era minha meta de vida quando chegasse à idade capaz de exercer uma profissão. Ciente de minhas habilidades, certamente sonhava com minha independência econômica e financeira, ter um lar de verdade e constituir família, como de fato aconteceu. Assim era – e será - a aspiração de todo jovem que pensa no futuro, positivamente.
Que chances poderiam ter jovens nascidos no interior do estado, sertão de Alagoas, em cidade praticamente sem mercado de trabalho, sem indústria, sem oportunidade de emprego? Ademais, a seca a cada ano devastava tudo, o campo, a lavoura, castigando o gado. Secava açude, riacho. Faltava água para consumo das famílias e dos animais. Faltava chuva. Cadê as culturas de subsistência? Tudo isso prejudicava, economicamente, o pequeno comercio das cidades interioranas, incluindo Santana do Ipanema.
Restavam ao nordestino a esperança divina e a crença nos desígnios de Deus. O carismático padre Cícero do Juazeiro, com os seus conselhos, com sua pregação de fé e de esperança, aliviava a dor e a alma desesperada das pobres criaturas nordestinas. Frei Damião, também, com as suas santas missões, viajava por quase todo o Nordeste, levando fé e esperança a todas às criaturas de Deus.
Com o passar dos anos, o crescimento foi chegando, o progresso foi surgindo nessas comunidades interioranas. Houve desenvolvimento de povoados, muitos deles foram elevados à categoria de cidade. Estradas de rodagens foram abertas, ligando cidades à capital do estado. A malha viária cresceu, melhorando a comunicação entre cidades vizinhas.
Com as estradas houve circulação de mercadorias, de produtos industrializados, de gêneros alimentícios, a cargo de transportadoras, de caminhões e de outros meios de transporte modernos. Antes, tudo isso era feito no lombo de animais, em carroças, em carros de bois.
Com o sopro do crescimento e do progresso da cidade, casas comerciais e antigas bodegas modernizaram-se, chamadas até de empresas, empregando os jovens da cidade. Pequenas indústrias foram surgindo. Escolas e grupos escolares foram criados, fundados, educando a mocidade da cidade. Depois vieram o ginásio, a escola técnica de comercio, a escola de formação de professores e o colégio estadual. Professores da capital chegaram à cidade, profissionalmente. Um grande passo para a educação e formação dos jovens santanenses, preparando-os para concursos e para a formação superior.
A chegada do Banco do Brasil marcou história na cidade e na região, no início da década de 1950, fomentando o progresso. O Departamento Nacional de Estrada de Rodagens, antigo DNER, hoje DNIT, o Departamento Estadual de Estradas de Rodagens, DER, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, Dnocs, e o Batalhão de Polícia Militar, um a um, trouxeram empregos para os jovens da cidade com idade e vocação para o trabalho.
Concursos foram abertos e os interessados começaram a estudar para o preenchimento de vagas que foram, paulatinamente, surgindo.
Felizmente, o progresso acabava de chegar. Hoje, Santana do Ipanema, com mais de 50 mil habitantes, é cidade moderna e polo de desenvolvimento regional. Comunica-se com a capital do estado e com demais cidades alagoanas por meio de estradas asfaltadas de boa qualidade.
Outras agências de banco foram sendo instaladas na cidade, incluindo a do Banco do Estado de Alagoas. No Produban, ingressei em 1967, em Santana do Ipanema, por meio de concurso público, tendo ali exercido a função de gerente até o ano de 1979.
Outros colegas também tomaram posse na mesma agência do Produban, a exemplo de Edemar Soares de Araújo, carinhosamente conhecido por Dema ou Gabiru, que dá título a esta modesta crônica. Depois daí, também por meio de concurso público, ingressei no Banco do Brasil.
Natural de Santana do Ipanema, filho de Dona Argentina, Dema morava no Alto do Cemitério, ligado ao bairro da Camoxinga. Este meu ex-colega de trabalho e grande amigo, já falecido, gostava de futebol, tendo chegado a compor o time do Ipanema, destacando-se como zagueiro. Gostava de pescar nos açudes e barragens e no rio Ipanema.
Era muito habilidoso com a tarrafa como também com a espingarda, nas inúmeras caçadas que realizamos nos velhos tempos.
Como os colegas bancários de minha época divertiam-se em fins de semana, em feriados, também tínhamos nossos programas. Um deles, era a caça de nambus, também praticada pelo amigo e companheiro Dema, sempre acompanhado de cachorros perdigueiros. Os cães treinados espantavam as aves, e nós, com tiros certeiros, abatíamos a caça em pleno voo.
Certa vez, meu amigo Dema comprou um cachorro ainda não treinado para caçada. Disparados os tiros, dito cachorro, com medo, largava-se a correr, postando-se muito distante do seu dono. Depois de muito ajeitar seu cão, Dema amarrou-o com uma corda no pescoço, impedindo-o de fuga após disparos.
Até aí tudo bem. Um pouco à frente, no cercado bem próximo, ouço um tiro e não vejo nenhuma caça voar. Aproximei-me de Dema e lhe perguntei se havia acertado a nambu. Ele me respondeu, simplesmente, que havia acertado a cabeça do animal...
Maceió, março de 2020.
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