SOLIDÃO E COMPANHIA, O LIVRO

Djalma Carvalho

Costumo ser atraído, com frequência, por exposições de livros que livrarias diversas promovem em espaços chamados esplanadas nos shoppings centers de capitais por onde tenho andado. Nelas há livros variados, para todos os gostos, de autores nacionais e estrangeiros, com preços convidativos, realmente atrativos.
Dias atrás, encontrei em uma dessas exposições o livro Solidão e Companhia (Editora Planeta do Brasil Ltda, São Paulo, 2021), de autoria de Silvana Paternostro, escritora colombiana de Barranquilla, formada em jornalismo nos Estados Unidos e que escreve para jornais de renome, como The New York Times e The Washington Post, e para revistas famosas, como Vogue e Paris Review.
A talentosa e premiada jornalista conta, no livro, a vida de Gabriel García Márquez (1927-2014), genial escritor colombiano, entrevistando escritores, jornalistas, críticos, artistas, amigos e familiares, boa parte deles personagens de Cem Anos de Solidão, livro que premiou o autor com o Nobel de Literatura em 1982.
O leitor terá em mão várias, curiosas e interessantes entrevistas, todas de boa qualidade intelectual, além de importantes depoimentos, ao longo das 286 páginas do apreciado livro, traduzido por Carla Fortino, profunda conhecedora da Língua Portuguesa.
Detive-me na leitura de parte do depoimento de Margarita de La Vega, colombiana de Cartagena, que vive nos Estados Unidos, acadêmica, produtora cinematográfica e crítica literária. Sabe-se por seu intermédio que Gabriel García Márquez, aos 19 anos, escrevia para jornal de forma profissional, já era famoso e vivia dos escritos publicados. O jovem jornalista de então escrevia durante a noite. De manhã, entregava seus escritos ao seu chefe diretor do jornal El Heraldo, Alfonso Fuenmayor, seu amigo, intelectual, literato, que corrigia a sintaxe e a ortografia dos textos a ele entregues. Lembra a crítica literária que os jornais de sua época “eram também instrumentos culturais”, recordando ela que os suplementos literários veiculavam poesia, entrevistas, literatura, teatro, artes, e muito mais.
O assunto “Suplementos Literários”, por exemplo, dá-me boas e gratas recordações da minha mania de cronista iniciada no final da década de 1950.
Com razão, João Cabral de Melo Neto, pernambucano, escritor, romancista, diplomata, que disse: “Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos.”
Daí, de fato, ninguém caminha sozinho na vida. Tratando de suplementos literários, como disse a crítica Margarita de La Vega, tenho que recordar, a propósito, o tempo que mandava meus escritos para o suplemento literário dominical do Jornal de Alagoas, denominado Página dos Municípios, dirigido pelo jornalista Carvalho Veras.
Dr. Hélio Rocha Cabral de Vasconcelos, como prefeito de Santana do Ipanema (período de 1956 a 1960), direcionava boa parte de sua administração para o caminho cultural, promovendo feiras de livros e palestras de intelectuais alagoanos, seus convidados.
Nesses encontros culturais, conheci o jornalista Rubem Cavalcante, a mim apresentado por José Marques de Melo, de quem era amigo. Com ele fiz boa amizade. Tornou-se, gentilmente, e por sua sugestão, portador de minhas crônicas endereçadas ao diretor do suplemento literário do Jornal de Alagoas.
Rubem Cavalcante publicava crônicas na Página dos Municípios, aos domingos, com o título “Borbulhos” do Mundaú..., representando Rio Largo, sua cidade natal.
Vejo, agora, em meus arquivos, com papel já amarelado, minha crônica “Centelha”, publicada no referido suplemento literário em 25/10/1959, que tratou do início das obras de construção da Igreja de São Cristóvão, no bairro da Camoxinga, em Santana do Ipanema, que se tornou sede da nova paróquia.
Antes de chegarem à mão do diretor Carvalho Veras, meus escritos tinham, vez por outra, o texto revisado pelo amigo Rubem Cavalcante. Como gesto de gratidão, convidei-o para escrever a orelha do meu primeiro livro, Festas de Santana, publicado em 1977.
Muitíssimo honrado, sabendo que o prefácio do livro estava a cargo de Divaldo Suruagy, governador de Alagoas, disse Rubem Cavalcante: “De modo que, de tudo quanto foi dito – e que ora constitui a orelha do livro – só desejo acrescentar a satisfação que Djalma de Melo Carvalho me deu, de me incluir no bojo de Festas de Santana, juntamente com um antigo companheiro da então Faculdade de Ciências Econômicas de Alagoas – um dos melhores alunos que aquela Faculdade já teve – o hoje governador Divaldo Suruagy, que prefaciará o livro, e amigo de longa data que é de Djalma.”
Assim aconteceu. Essa amizade com Rubem Cavalcante durou bastante tempo, até o seu falecimento.
Maceió, maio de 2024.

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