Quando o carnaval aportou no Brasil, teria aqui encontrado o entrudo, trazido de Portugal. De origem europeia, a maior festa popular brasileira é o carnaval, comemorado em formas diferentes, em regiões diferentes, a exemplo do Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. Chamemos tudo isso de diversidade cultural.
Não brinco no carnaval, como antigamente, acompanhando blocos de rua. Nos salões, talvez, até reensaiando frenéticos passos do frevo pernambucano.
Já fiz quase toda a caminhada de folião, senão todas. De bloco de rua, bloco de salão, à participação de carnaval fora de época, no asfalto e em camarote. Participei de históricos e memoráveis bailes de carnaval no Clube Fênix Alagoana. No Rio de Janeiro, por exemplo, experimentei os 35 minutos de glória, pisando o chão feericamente iluminado do Sambódromo. Também, lá mesmo, experimentei a desconfortável arquibancada para assistir ao grande desfile das escolas de samba, o grande espetáculo de luxuosos e criativos carros alegóricos, puxados por afinadas baterias, com show de mestre-sala e porta-bandeira, rainha de bateria e de belas mulheres de pouca roupa e de requebros sensuais.
Agora, não. Prefiro ver pela televisão a grande festa do povo, com mais povo lotando ruas e ladeiras de Olinda e no centro do Recife, com muito frevo, maracatu, marcha de bloco e ciranda. Vejo a loucura de foliões atrás dos trios elétricos em Salvador. No Rio de Janeiro, escolas de samba disputam o pódio, em renhida peleja pelas notas dos julgadores. Quesitos com as pontuações assinaladas são guardados a sete chaves, com segurança máxima, parecendo verdadeiro tesouro.
Depois, a comemoração da multidão enlouquecida no barracão da escola vencedora. Muito som, pulos, abraços e bebida. Todos esquecidos do trabalho, do emprego raro, das dívidas, das eleições passadas, dos políticos corruptos, da inflação. Para esses foliões, o resto que se exploda, porque o carnaval é festa do povo, que só existe uma vez no ano.
Ultimamente, tenho procurado o merecido descanso no Mar Hotel do Recife, fora da folia, com banho de piscina e moderadas doses de destilados, para relaxar. Longe, pois, do ruge-ruge das ladeiras de Olinda e da multidão concentrada no centro histórico do Recife, onde vários hóspedes do hotel perderam carteira, documentos e dinheiro. Os punguistas também fizeram, negativamente, a festa de momo, metendo a mão no bolso de descuidados foliões.
Ao ver o frevo passar ao lado do hotel, ao som de clarins, trompetes e trombones, move-me a saudade dos carnavais de Santana do Ipanema, do bloco do mela-mela, bem recebido nas residências de conterrâneos amigos, com bebidas, petiscos e tudo o mais, prova incontestável da hospitalidade sertaneja, manifestada em plena alegria do carnaval.
Afinal, a saudosa lembrança de Reginaldo Falcão, o espirituoso jovem carnavalesco, a rolar doidamente no salão do Tênis Clube Santanense em incontido choro, ao término de animado baile de carnaval, já madrugada da quarta-feira de cinzas.
Maceió, fevereiro de 2015.
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