Mestre Aurélio registra, em seu apreciado dicionário, que a poesia é “aquilo que desperta o sentimento do belo”. Mário Quintana, o poeta gaúcho de Alegrete, acrescentava, dizendo que “a poesia purifica a alma” e “um belo poema sempre nos leva a Deus”.
Tenho em minha estante, carinhosamente autografados, os livros de poesia “Os Colibris em Festa” e “Olhando Estrelas”, respectivamente publicados em 2005 e 2007, de autoria da talentosa jornalista e escritora Arlene Miranda. Ao tempo em que ela militava, profissionalmente, na imprensa alagoana, resolveu escolher o soneto para expressar o seu lirismo apaixonante. Aliás, produziu-o muito bem e de ótima qualidade.
Em recente artigo publicado em O Jornal (fechado, de saudosa memória), disse Arlene Miranda, conhecedora da arte de versificação: “Não consigo deixar de me emocionar sempre que leio um soneto, forma mais bela da expressão poética. Nele, o poeta coloca todo o sentimento que lhe vai na alma, inspirando-se de forma mais vibrante.”
Dela escolhi a primeira estrofe do soneto “Pajuçara”, do livro “Olhando Estrelas”, cujos versos refletem as belezas da festejada praia alagoana e o talento poético da autora:
“Olhando a tarde agonizar lá fora,
Na espera do renascer da aurora,
Pajuçara, refúgio dos amantes,
Repousa, ouvindo as vagas ondulantes.”
Parabéns, Arlene.
Realmente, a bela poesia encanta a alma da gente. Vejamos, a propósito, os seguintes versos antológicos de Olavo Bilac, publicados em 1916:
“Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada em tinha...”
Há poucos dias, assisti à solenidade do lançamento da coletânea “Poetas de Canto a Canto”, caprichosamente organizada por Jader Tenório, viçosense apaixonado, poeta de muito chão andado, declamador de primeira, meu amigo e colega aposentado do Banco do Brasil.
Trabalhamos juntos na agência de Santana do Ipanema, lá para os idos de 1964 ou 1965, por aí.
Arlene Miranda e Jader Tenório, meus amigos poetas, possuem estilos diferentes. Ela sonetista, ele poeta popular.
Além da veia poética, Jader trouxe do seu torrão natal, do seu inesquecível Tangil, o gosto pelo folclore, pela poesia popular, pelo cordel, pela cantoria de viola, pelo repentista, pelos desafios dos poetas nordestinos de canto a canto.
Pesquisador de escol, incansável, apreciador da poesia popular, Jader largou-se
pelo Nordeste e pelo Brasil afora, leu mais de 100 livros de poesia e cerca de 300 folhetos de literatura de cordel, participou de inúmeros festivais de violeiros e de eventos de poetas, deles recolhendo o “que há de mais autêntico e pitoresco no mundo encantado dos nossos poetas populares, notadamente os cantadores de viola”, como bem assinalou Denis Melo, seu conterrâneo e prefaciador da obra.
Poeta, declamador, como acima foi dito, Jader pesquisou e guardou no baú belíssimas quadras e sextilhas de consagrados poetas nordestinos, juntou-as a sua produção poética (mais de um terço da coletânea) e as inseriu no volume de 262 páginas, que agora vem a público, verdadeira antologia do gênero.
Para brindar o leitor, vejamos apenas duas pérolas do livro. Quanto à primeira, esclarece Jader que Pinto Monteiro, enquanto viveu, foi “o maior e mais respeitado poeta repentista do Brasil. Ninguém ousou insultá-lo para não se sair mal. Desafiado por Lourival Batista, deu-lhe a seguinte resposta:
“Ainda lhe vejo cego
Sem ter no bolso um vintém
Pedindo esmola num beco
Onde não passe ninguém.
Se passar, seja outro cego
Pedindo esmola também.”
Outra resposta de Pinto Monteiro dada ao poeta João Furiba, que acabara de arranjar mais uma mulher no Rio Grande do Norte e se exibia na cantoria:
“Essa daí sei que é
Honesta, educada e forte
Talvez seja a mais bonita
Do Rio Grande do Norte.
Eita Furiba feliz
Ô moça pra não ter sorte!”
Felicito, afinal, Jader Tenório pelo belo livro de poesia e pela sua valorosa contribuição à literatura nordestina, quiçá à brasileira.
Aos leitores, desejo boa leitura.
Maceió, janeiro de 2013.
Comentários