Não há muito o que fazer contra os fanáticos que, sob uma religião política, idolatram incondicionalmente líderes políticos autoritários, ditadores ou tirânicos. Desde Platão, sabemos que essas pessoas têm um embotamento crítico, têm dificuldades sérias de compreender a realidade e de aceitá-la. A experiência de Siracusa lembra-nos de que Dionísios sempre existirão. A experiência fascista lembra-nos de que massas emotivas acríticas sempre existirão. A experiência stalinista mostra-nos que a paixão cega por uma ideologia pode levar à perda das liberdades. Em situações extremas e graves, como a atual, essas pessoas ficam dispostas a tudo ou nada, seguindo, em séquito, para o sacrifício messiânico. A vida nada lhes importa. Elas não se preocupam se outras pessoas irão sofrer ou morrer.
O pensamento totalitário quer que a manada apenas obedeça e siga e siga. O seguir é indefinido até que uma catástrofe ou uma tragédia ocorram. Quando isso não acontece, o séquito busca desesperadamente, junto com o líder carismático ou populista, encontrar um novo inimigo, para que seja perseguido e eliminado, tido como o mal. No momento, o inimigo é a democracia e os seus fundamentos, a vida, as liberdades e a ciência. Por isso, os bolsonaristas querem que todos saiam de casa. Buscam justificativas medíocres e perigosas, põem a economia precedendo a vida, o vírus vira comunista, desacreditam as ciências, as pesquisas em redor do coronavírus, ironizam e menosprezam a comunidade científica, minimizam e negam a pandemia. Eles criam uma realidade fictícia e passam a crer nela sem concessões. Que fazer? Penso que irá acontecer uma tragédia brutal no Brasil. A barbárie já está nas ruas. Pessoas descontroladas emocionalmente fazendo passeatas, carreatas, rompendo o isolamento social, agredindo médicos para mudarem atestado de óbito, banalizando a violência. Elas estão brincando irracionalmente com a morte. E, possivelmente, adoecerão. Poderão morrer por causa de sua irracionalidade nefasta e, também, causar um dano monstruoso a todos nós, por propagarem mais e mais o coronavírus. Fiquem preparados para uma miríade de cadáveres.
Adriano Nunes
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