FÉ, PROMESSA E VESTIBULAR

Djalma Carvalho

Djalma de Melo Carvalho
Membro efetivo da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes.

Promessa é coisa prometida, séria, que deve ser cumprida a qualquer tempo, mesmo com sacrifício. Fé, por sua vez, é firmeza na execução dessa promessa. É otimismo, crença, fervor, confiança.
A propósito dessas iniciais afirmações, disse Mário Quintana (1906-1994), gaúcho de Alegrete, tradutor, jornalista, poeta: “Viver é acalentar sonhos e esperanças, fazendo da fé a nossa inspiração maior.”
Em minhas andanças por Paripueira, a bela e paradisíaca praia do litoral norte de Alagoas, lá pelos anos de 1960 e 1970, encantou-me a religiosidade daquela gente, demonstrada na anual festa do padroeiro da cidade, Santo Amaro. Clara expressão de inabalável fé, a julgar pelo número de católicos, descalços, acompanhando a longa procissão, todos devotamente pagando promessa.
Lenda medieval, conhecida na Península Ibérica, diz que Santo Amaro é um santo cristão que descendia de rica e de boa família e que se dedicara a cuidar de pobres, viúvas e peregrinos. A todos ele perguntava onde encontrar o Paraíso Terrestre. Segundo a mesma lenda, Santo Amaro teria nascido na Alia (Ásia), sem que se saiba a sua data de nascimento e de morte. Talvez entre os séculos V e XV.
Naquela época de veraneio, conheci em Paripueira um esperto garoto, já perto da adolescência, filho de importante família alagoana, cujo sobrenome completa a denominação de duas longas avenidas no bairro de Ponta Verde, em Maceió.
Anos mais tarde, já adulto, aquele jovem submeteu-se ao exame de vestibular de medicina. Aprovado, resolveu, então, pagar a promessa feita a Santo Amaro, de forma diferente, deslocando-se a pé, por 30 quilômetros, numa manhã ensolarada, até Paripueira. Lembro-me que a aprovação do jovem e a inusitada empreitada concluída – de sacrifício, suor e cansaço – foram festivamente comemoradas, lá mesmo na bela praia, por seus familiares e amigos.
No show artístico e musical realizado, há pouco, no pátio do Parque Shopping Maceió, a uma mesa próxima à minha, encontravam-se dois casais – pais, filho e nora. O senhor de cabelos brancos, de óculos, tratava-se de conhecido e conceituado médico em Maceió. Pelos meus cálculos, aparentava ter ele a idade de 60 anos, aproximadamente. Cumprimentei-o, lembrando-lhe o sacrifício que ele tivera, depois de aprovado no exame de vestibular de medicina.
Tudo confirmado. Deu-me um forte abraço pela recordação daquelas inesquecíveis e bem-sucedidas aventuras de tantos anos passados. Alagoas, afinal, é mundo pequeno de muita gente conhecida.
Maceió, julho de 2018.

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