MICAREME, SINÔNIMO DE ALEGRIA

Crônicas

Por Alberto Rostand Lanverly Presidente da Academia Alagoana de Letras

Não hesito em afirmar haver sido, o Fênix Alagoana, quase um anexo de minha residência durante a inocente fase da meninice, quando os problemas inexistiam e a vida se resumia a estudar e brincar.

Lá estávamos sempre nós, turma bacana composta por residentes das cercanias da Rua Comendador Palmeira, no Farol, bem próximo à então bucólica Praça Gonçalves Ledo. Juntos frequentávamos o Colégio Marista, onde estudávamos, e o Clube do coração, nos finais de semana e feriados.

Os jogos de vôlei e basquete, as disputas de natação, os filmes projetados em telão fixado na pérgula da piscina, sempre nas noites das terças feiras, e, acima de tudo as festas, eram nossa explicita paixão.

O carnaval, já era o evento profano dos dias atuais, durante o qual tudo se podia realizar, mas logo após nosso pensamento se voltava para a chegada da Semana Santa, quando aprendíamos ser a abundância aflorada no Reinado de Momo, contraposta à escassez do período, tempo de abstinências e jejuns, de não só da carne e diversões, mas de também sentimentos negativos como inveja, maldade e outros... Enfim tempo para os cristãos se penitenciarem das faltas cometidas ao longo do ano.

Meu maior encanto, contudo, era saber que ao término da Quaresma, - os quarenta dias existentes entre a quarta-feira de cinzas e a quinta-feira santa -, quando os sinos das igrejas tocavam, anunciando a Ressurreição de Cristo, atenuando esse lapso temporal de privações, vinha o Micareme, popular baile destinado a festejar a Aleluia, tudo voltando a ser folia, frevo, Pierrots e Colombinas...

Naquela época, em minha concepção, parecia existir uma forte disputa entre Carnaval e Quaresma. No primeiro, multiplicavam-se as cores das fantasias, os desfiles dos blocos no salão e as músicas animadas de ZeKeti e tantos outros, sendo o momento personificado por um jovem alegre, gordo e beberrão, conhecido como Rei Momo. O segundo, quase sempre era representado por uma senhora pálida, magra, seca como um peixe, caracterizando o regime alimentar típico dos dias a serem vividos.

Lembro de durante a Semana Santa o cheiro de maresia invadir a cidade, oriundo das tilápias, camarões e caranguejos vendidos nos mercados e nas ruas. Minha mãe se esforçava para preparar receitas onde o pescado alcançasse o melhor sabor. Até as brincadeiras eram diferentes, pois, no máximo poderíamos realizar a malhação do Judas, espancando e queimando bonecos de pano com recheio de palha, símbolo das figuras malquistas da comunidade.

Sempre soube ser, Semana Santa, o clímax da espiritualidade, durante a qual era celebrada a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, aquele que veio ao mundo para modificá-lo, trazendo a notícia esperada pelos homens de boa vontade, para transformar o planeta em um lugar mais harmônico. O Micareme, ao contrário, sempre foi sinônimo de alegria, com a música sendo a linguagem dos espíritos e os salões do Clube Fênix, tudo de bom!!!

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