OSCAR SAPATEIRO

Crônicas

Por Luiz Antônio de Farias, Capiá

Meus primeiros passos em busca do trabalho remunerado aconteceram nos idos de 1957, em um moderno mercadinho idealizado pelo empreendedor Zezinho Quirino, um cidadão pertencente a tradicional família santanense. Recém-chegado do Rio de Janeiro ele disponibilizou em seu estabelecimento especiarias, chocolates especiais, laticínios, enlatados, vinhos finos – iguarias que não eram encontradas nas mercearias e bodegas de então – voltados para uma clientela pertencente à elite dominante de nossa terra.

A partir de março de 1959, até janeiro de 1965, trabalhei na Casa Ideal, uma sapataria do Sr. Manoel Rodrigues do Amaral – conhecido por “Seu” Marinheiro – e de lá saí para assumir as funções de escriturário do Banco do Brasil, onde permaneci até minha aposentadoria, em março de 1993. Já alcancei a referida loja comercializando sapatos de primeira qualidade, oriundos de renomadas fábricas, localizadas em Novo Hamburgo(RS), Franca(SP), Caruaru, Timbaúba, Nazaré da Mata, estas instaladas no estado de Pernambuco. Concomitantemente à venda de calçados eram vendidos, também, couros, solas e outros aviamentos, para suprir fabriquetas de pequena monta, da região.

Em épocas passadas as prateleiras do estabelecimento eram supridas com produtos confeccionados em fábrica exclusiva, por operários preparados na própria oficina. O proprietário primava pela qualidade, de forma que seus produtos gozavam de grande conceito na redondeza. Muitos artífices por lá passaram, entre os quais podem ser citados Zeca Ricardo (meu pai), Evilázio Brito, Nestor Dantas, Nestor Noya, Nego Fusco, Oscar Porcino, Luiz Parrau, Izaías Becão, Nego Expedito e outros que escapam da memória.

Encerradas as atividades da fábrica, alguns profissionais decidiram continuar no ofício, por conta própria. Uns se deram bem; outros, nem tanto. Talvez o mais próspero, a se dedicar à “carreira solo”, tenha sido Oscar Porcino que, durante um longo tempo, levou adiante a arte do couro, com o auxílio dos fieis escudeiros Pedrinho, Vavá, Alípio, Zé de Terto, Zé Vicente, João Xoboi, Moacir, Pedro de Tô, Nego Gerson, Quincas, entre outros.

Publicamente quero manifestar meu preito de gratidão a Oscar Porcino pela preferência que ele dava a minha pessoa nas compras “em grosso” que, pelo fato de minha remuneração ser complementada através de percentual sobre as vendas por mim efetuadas, o incremento representava um razoável auxílio ao meu soldo mensal.

Obrigado “Seu” Oscar Sapateiro.

Crônica publicada no livro NOSSA HISTÓRIA TEM QUE SER CONTADA (SWA Instituto, 2021 p.199-200)

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