MONÓLOGO DAS ÁGUAS – Meu Rio Panema.

Crônicas

Por Remi Bastos

(Dedico este poema ao amigo e colega de profissão, João Francisco das Chagas Neto, o João do Mato, pelo seu amor ao velho Rio Ipanema, o nosso “Panema”, das vezes em que pescou, nadou e se banhou em suas águas valentes, às vezes,traiçoeiras).

Sou tão ligado ao Rio Ipanema, quanto as tuas areias e pedras. Mesmo no silêncio do canto de tuas águas, dos remansos, das corredeiras e do lago do Poço do Juá, consigo através do meu consciente, reprisar os teus dias de glória.
Ah, meu velho rio! Foste a piscina natural onde aprendi brincar e nadar no caminho das tuas águas cinéticas e traiçoeiras. Lembro-me também das pescarias com litro e anzol; das canoas operando nos dias de feira e dos gingados que faziam costurando a correnteza. Lembro-me ainda do atrevimento do Nego Zé Lima e do moleque Messias desafiando a tua valentia no Poço dos Homens. Como era lindo, porém, temeroso, assistir o passeio das tuas águas valentes, do alto da Ponte do Padre; de ouvir os ribeirinhos anunciarem, correndo pelas tuas margens, “O Panema vem com água”. O santanense logo passaria a anfitrião das tuas cheias, tendo como mirantes a Barragem e a Ponte o Padre. No entanto, tantas vezes silenciei no teu silêncio e sorri na tua alegria. Sabe de uma coisa,meu rio, é segredo! Mas, estão fazendo de ti depósito de lixo, ninho de roedores e passarela de catartídeos. Os esgotos a céu aberto deságuam no teu leito resíduos tóxicos e contaminantes, exalando um cheiro fétido. Certa vez anunciaram através das emissoras de rádios locais, de que um movimento levantado por uma entidade comercial iria desenvolver um trabalho conjunto com o objetivo de perenizar as tuas águas e despoluir o teu leito. Mas confesso,meu velho rio, tudo ficou apenas na palavra e, novamente, relegaram-te ao desprezo. Hoje da sacada deste Restaurante e Bar onde me encontro, contemplo com tristeza o menosprezo que confessas, sem que nada que eu possa fazer para outra vez sorrirmos juntos. A única coisa que me resta é juntar as tuas águas remanescentes às minhas lágrimas carentes de tua beleza, meu velho rio.

Crônica publicada no livro LEMBRANÇAS GUARDADAS (SWA Instituto, 2022 p.155-156)

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