PAPO AMARELO

Artigo

José Malta Fontes Neto

Em um ambiente habituado com as famosas Lazarinas, Bate Buchas e Soca Soca, e em tempos mais remotos o potente bacamarte, o rifle de repetição fez muito sucesso, rápido e confiável, se tornou o queridinho destas quebradas do vale e do sertão, armou a cabroeira e tornou os ataques cada vez mais furtivos e fulminantes, pois dentre as opções de munição estava o destruidor cartucho .44.
Apelidado como “Papo Amarelo” por conta da estrutura metálica dourada, é ainda hoje encontrado em lojas de armamentos sob a batuta de outros fabricantes, pois a Winchester foi dissolvida nos anos 1970. (CARIRI DAS ANTIGAS, 2018)


A citação acima foi uma busca que fiz para entender o título do mais novo romance do Professor Clerisvaldo B. Chagas: “PAPO-AMARELO” (CBA Editora, 2024).

O Professor Clerisvaldo, quando do lançamento do seu livro “O BOI, A BOTA E A BATINA: HISTÓRIA COMPLETA DE SANTANA DO IPANEMA” (GRAFMARQUES, 2024), disse que sua paixão forte é o gênero romance, e eu tenho certeza de que é. Em seus dois romances outrora publicados, “RIBEIRA DO PANEMA” (TIPOGRAFIA NORDESTE, 1977) e “DEFUNTO PERFUMADO” (SERGASA, 1982), ele já apresentava a sua expertise e uma capacidade fantástica de fazer tramas com perfeição.

Recentemente, propriamente em julho deste ano, o Professor, de uma só vez, lança quatro livros oriundos dessa paixão: “DEUSES DO MANDACARU”, “FAZENDA LAJEADO”, “O OURO DAS ABELHAS” e “PAPO-AMARELO” (CBA, 2024).

Pois bem, adquiri os quatro e aqui estou para comentar um pouco sobre este último, dizem que os últimos são os primeiros. Por questão de escolha, começo a leitura pelo último, pois eles não possuem entre si elos, são histórias independentes, mas que o tema central é o ciclo do cangaço.

“PAPO-AMARELO” é um livro, como a proposta do autor diz, de episódios do cotidiano do Sertão Nordestino numa época em que o cangaço estava em efervescência, assim como os coronéis que dominavam as terras áridas do Nordeste com força e poder.

A trama bem elaborada lembra a obra de Homero (Ilíada), cuja protagonista é Helena de Troia. Trazendo para o nosso sertão Dona Cila (Gedalva Cila Nunes), disputada por dois coronéis: Marcionílio Godói Arruda, de Alagoas e o Coronel Arsênio do Estado da Bahia.

Não quero aqui discorrer sobre a trama, mas devo apimentar os nossos leitores colocando algumas informações. Godói Arruda teve sua amante Dona Cila, no entender dele, sequestrada pelo Coronel Arruda e para recuperá-la contrata o corajoso Petrônio Valentim para essa missão perigosa.

Pronto, aqui está o ponto de partida. Petrônio, por sua vez, recebe uma boa quantia de dinheiro e contrata uma boa equipe para o resgate.

Na trama entram vaqueiros, uma prostituta — que faz um bom trabalho de informação —, administradores de fazendas, rastejadores e, é claro, os cidadãos das comunidades envolvidas.

O romancista Clerisvaldo B. Chagas tem um poder de imaginação fantástico, além da capacidade de colocar o leitor como se estivesse vivendo a estória. Ambienta com muita propriedade os cenários e ainda coloca locais conhecidos, pelo menos por nós sertanejos, pois a trama começa em Alagoas, vai até a Bahia, passa boa parte do tempo às margens do rio São Francisco, liga-se a Garanhuns/PE e é concluída de volta em Alagoas, mais especificamente em Água Banca.

Vejam uma passagem por Santana do Ipanema: “Durante a feira foi visto pelo rapaz traidor que nem sequer quis se aproximar. Juvenal correu da feira, atravessou o rio Ipanema em canoa no poço do Juá, pois o rio estava muito cheio, montou num burro e partiu excitado à fazenda Jaboti” (CHAGAS, 2024, p. 188).

Teremos ao longo da obra, várias ambientações em cidades conhecidas dos estados envolvidos como a belíssima Igreja de Água Branca.

“PAPO-AMARELO” insere o cangaço em várias situações. Uma que nos chamou atenção foi a inclusão do nome do Capitão Corisco, o famoso Diabo Loiro, que destacamos no seguinte trecho de Chagas (2024, p.190):

Corisco soube de que o pistoleiro Gabino da Bananeira ganhou dinheiro de Godoi Arruda para matar o noivo da sua fia. Ai mandou um recado para Bananeira que eu mesmo levei: ordenou que o matador adevorvesse o dinheiro pelo crime e saisse das Alagoas dentro de 24 horas. E que qualquer um que tocasse num fio de cabelo da famia de seu João da Lagoa Redonda, tava mexendo com ele, Corisco, o Chefe dos Grande Cangaceiros. ”Caso não Obedecesse às orde iria ver comigo e com meus menino”.

Quero, por fim, dizer que foi uma leitura agradabilíssima. A trama é muito bem elaborada nos seus trinta e sete capítulos, com suas ligações que nos prendem do início ao fim, desejando ver os desdobramentos de cada situação vivida. Recomendo esse fantástico romance e já inicio a leitura de “DEUSES DO MANDACARU”.


Referências:
JUNIOR, Roberto. O arsenal dos coronéis e cangaceiros - Rifle Winchester. Cariri das Antigas, 2018. Disponível em: https://cariridasantigas.com.br/o-arsenal-dos-coroneis-e-cangaceiros-rifle-winchester/. Acesso em: 17 nov. 2024.

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