Lendo o livro, Eu Literato, do amigo jornalista e escritor, José Malta Fontes Neto, percebo a riqueza do seu conteúdo, onde nele inscreve-se a cada página, crônicas que são um registro da Vida que, comprovadamente, nos aponta o quanto estamos conectados, uns aos outros.
A crônica como estilo literário tem essa força e esse poder; o de localizar o homem em seu tempo, e a seu tempo, levar outros às lembranças que permeiam o seu universo, como sendo o palco onde se desenrola para além da própria crônica, a história de personagens reais, atuando no cenário às suas vivências. Além de possibilitar que outros tantos conheçam esses fatos e histórias. Engraçado, que através do sentimento e do olho clínico e atencioso do autor, ele consegue suscitar ao fazer o relato de fatos presenciados, o constructo do tecido social com vasta amplitude.
A cada passo, Malta rege a orquestra desse tempo já citado, conduzindo o leitor à “musicalidade” diária de homens e mulheres, ajudando a mapear o sentido, a personalidade, a marca de suas existências. E não só às pessoas, mas a alma da cidade, seus festejos que vêm perdendo a força de representatividade à cultura local, seus logradouros, seus espaços muitas vezes mal utilizados, o que sabemos, tem ocorrido, também, em tantos outros lugares. Figuram, pois, como um gesto seu, que situa - por assim dizer -, certa tensão louvável que se instala sobre o risco de que escapem para o lugar do silêncio e do esquecimento.
O que fica constelado em seu livro, como menciono acima, é a riqueza de conteúdo advindo dos sentidos desse escritor, que preserva nas páginas escritas, não apenas memórias, mas em muitas passagens, um passado que norteia e aponta para o presente e para o futuro. Um presente que precisa, necessariamente, acolher cada registro feito por ele, para dar-lhe continuidade. Para que ao percebê-lo, possamos compreender, e questionarmo-nos, por exemplo, sobre a presença do reduzido público à apresentação de Silvano Gabriel, como um dedo em riste, mostrando, talvez, quem ou o que ocupará devida ou indevidamente o lugar da genuína expressão artística santanense.
Muito bem pontuadas, as crônicas de Malta trazem, sobretudo, uma forma de expressividade poética, que articula, reclama, expõe e compara, sobrepondo às camadas do tempo o desejo de que tudo captado e resgatado por ele, seja para todos nós uma referência. Desde seus personagens apresentados e que ocupam suas páginas, sejam as disposições humanas, pensamentos, moções, projetos, enfim... Seja uma prospecção para o futuro. Um futuro que respalde a legitimidade da sua colheita humana traduzida em literatura, enquanto observador social, sensível e atento que é. Eu Literato, cumpre esse papel. É um recorte maravilhoso para um tempo que se estende conforme as vivências do próprio cronista. É um livro para ser lido. É uma leitura necessária que chega em ótimo momento. Parabéns Malta!.
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