Os jornais da cidade anunciaram violento tiroteio, acontecido no interior alagoano onde morreram várias pessoas.
Posteriormente, Jesualdo ligou para contar que um dos envolvidos no sinistro episódio era seu sobrinho, irmão de Germinia. Recebeu três tiros a queima roupa, no meio da testa, queixo e peito. Morreu antes de cair no chão.
Viajou rapidamente para o sertão, chegando ao destino, o parente, já se encontrava em visitação, na Catedral da cidade.
Querendo logo prestar homenagens ao morto, convidou seu afilhado de dez anos, que nunca tinha visto um corpo sem vida, para acompanhá-lo.
Justo no momento em que Jesualdo e seu companheiro se aproximaram do funeral, uma mosca enorme de cor azulada, zumbiu ao redor do caixão e em voo rasante e certeiro, entrou no nariz do assassinado, para não mais sair. O seu protegido não suportando a visão macabra, abriu o berro a gritar e chorar.
Sanada a situação, o velório continuou, mais pessoas chegaram para a última homenagem, inclusive algumas menores, que logo começaram a brincar no ambiente, foi quando uma menininha se escondeu perto de uma vela tendo seu cabelo começado a pegar fogo. Germinia, mais do que depressa, pegou a água benta do padre, e jogou na cabeça da criança, debelando o fogaréu.
Horas depois, determinado cidadão agiota, sabendo da presença de Germinia na cidade, compareceu à igreja, para cobrar dívida antiga, gerando discussão entre ambos, fato que irritou os familiares presentes, iniciando grande alvoroço, atingindo a urna mortuária, e derrubando parte que sustentava uma de suas extremidades, deixando o cadáver, pendurado por uma banda.
Já no cemitério, quando o coveiro, que tinha a língua presa, pegou a tampa para fechar a gaveta, começou a dizer: - quem tem medo de balata? Cuidado com a balata. Jesualdo ao escutar, teve uma crise de riso e para disfarçar, encostou o rosto no ombro de um parente para que achassem estar ele em prantos.
Mas o pior ainda ia acontecer. Todos se hospedaram na enorme casa da família, composta por muitos aposentos. A noite ele deitou em uma rede, ao lado de outra ocupada por seu afilhado, que ainda continuava assombrado por haver horas antes tinha visto a mosca varejeira entrar narina adentro do finado.
Por volta da meia noite, luzes apagadas, o menino começou a resmungar alto: - socorro, ele está voltando para me pegar. Jesualdo mais do que depressa tentando acalmá-lo colocou a mão justo em seu rosto, que sentindo o contato, imediatamente lhe mordeu fortemente.
Agora quem berrava de dor era também Jesualdo, que para fazer o garoto abrir a boca, lhe deu o maior bofete. A cena seguinte, foi interessante: todos os parentes correram, já de pijamas, para a porta do quarto, onde encontraram, sem saber o motivo, ambos sangrando, um nos dedos e outro nos lábios.
Realmente, foi um funeral movimentado.
TRAVESSURAS NO FUNERAL
CrônicasPor Alberto Rostand Lanverly Presidente da Academia Alagoana de Letras 22/08/2021 - 16h 59min
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