A alma de Santana do Ipanema

Crônicas

Por M. Ricardo-Almeida

Procissão de Senhora Santana inicio dos anos 90 (Foto: Scervo João neto Félix Mendes/Darras Noya)

Alma existe realmente? Existe. Se existe a alma o que é a alma? É a festa de Santana. Em Alagoas, a Festa da Juventude. Mês de julho, mês da padroeira de Santana do Ipanema.

O que se festeja, festeja-se motivado pela provocação psyché? Processos comuns nas relações humanas que motivam as festas cabem a quem conduz as atitudes controlar a direção à qual se destina; como se diz no mito do cocheiro sobre a força da alma, cabe a quem conduz a direção da festa aceitar ou não aceitar a provocação psyché.

É a história quem demonstra a provocação psyché. Se a alma de Santana do Ipanema é a Festa de Santana, a gênese está no gene autóctone Fulni-Ô, e se encontra a gênese da protofesta em um tempo que surge no tempo de 1787 quando as águas do São Francisco trazem o padre nascido em Penedo à Ribeira em sua viagem ao sertão. Francisco Correia com nome de rio e o rio com bom nome de santo.

Padre Francisco Correia quais corredeiras em alusão é Francisco trazido pelas águas do rio pra construir sobre a pedra a primeira capela. Padre Francisco devoto de Nossa Senhora Sant’Anna.

O rio que corta como faca com sua água e corta o rio com a sua água escura de lâmina escrevendo páginas na história de Santana do Ipanema. Padre Francisco Correia substitui as suas cores de Penedo pelo semiárido sertanejo vencendo aroeira-do-sertão, caatingueira, baraúna, imburana-de-cheiro. E no ano de 1812, o padre chega pra morar na velha Ribeira o caboclo e o vaqueiro o amarelo e o mentiroso e o criador de cavalos e o tangedor de burros e o domador de gados colecionador de urros a mulher pia e os filhos o encantador de vento o monarca e o escravo as abelhinhas e o favo o trabalho e a preguiça a liberdade e o látego ouvem as rezas do padre. Padre Francisco faz amizade com povos Fulni-Ô em sua metafísica catequiza em sua catequese esculpe e prega aos habitantes ribeirinhos do médio rio Ipanema Funi-Ô, Kariri, Cajaú, Carijó, Iatê. Em 1838, o Padre Francisco Correia pacifica os sebastianistas conhecidos revoltosos da Pedra do Reino Encantado de Dom Sebastião. Em 1937 o interventor Osman Loureiro decreta chamar uma escola em Santana de Grupo Escolar Padre Francisco Correia; no grupo estudam nomes que honram quaisquer lugares na história do Brasil. Acauã acorda a manhã e é festa em Santana.

Faz-se a cidade pela festa e a festa faz-se na luz. A alma de Santana do Ipanema é a sua história preservada por seu povo, filhos adotados, legítimos, visitantes, vizinhos. Mês de julho é mês de festa em Santana.

Lendo Santo Agostinho encontra em Santo Agostinho que a alma é quem governa o corpo. E a festa na cidade é uma espécie de consciência, age com a força que governa as atitudes.

Sentidos físicos e metafísicos são manifestos na festa de Santana nesse período de festa na cidade. Porque durante as festas afloram as emoções e as decisões que surgem inevitavelmente nos exercícios de criatividade festiva.

A alma da cidade é o que Anaxímenes refere-se ao falar sobre arché. É o princípio na cidade do qual tudo se origina.

Sem alma a cidade não se sustenta. Alma está associada ao pensamento, a sensibilidade, ao que afeta as relações; como se diz, manifestam-se as relações mais facilmente nas festas.

E o que é a alma de Santana do Ipanema? É a festa de Santana.

M. Ricardo-Almeida

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