CARNAVAL DE LEMBRANÇAS

Crônicas

Maria Goretti Brandão

Serviu-me de amparo aquela meia dúzia de saudades, que se eu me tivesse permitido, teriam sido multiplicadas. Deixei não. Só podia sentir aquelas, se aumentassem viriam outras e eu me veria chorando. Era carnaval sem ser carnaval e sem blocos.

No silêncio que acontecia estendido sobre a noitinha da segunda-feira, vieram a mim, porque os invoquei, de todos os becos, o rufar dos tambores, o entoar das marchinhas e a multidão. Os blocos que encontraram uns aos outros, em toda a extensão da Bráulio Cavalcante, vasta avenida vestida de alegria e cores.

Enchi a rua com o que trouxe da memória, um carnaval de lembranças. Mas, ter notado a ausência de um dos beijamins da minha infância na praça, fez de súbito sumir tudo. Senti que o cenário de tantas outras alegrias fora sucateado. Voltei à porta de casa, cadeira na calçada onde aqui e acolá, pouquíssimas pessoas usando máscaras, não festejavam a alegria carnavalesca, mas a realidade da pandemia.

Pouquíssimas pessoas. Todos estávamos sob o calor e o mormaço. As folhas das novas árvores paradas, a escassez do vento, o desejo de que se formasse no céu uma tempestade com trovoadas e relâmpagos, que caíssem as chuvas. Pois, então, os tempos são outros...

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