Iniciamos hoje, com a imposição das cinzas, em nossas cabeças, dentro da celebração eucarística, neste dia estacional, o tempo santo da Quaresma. Este tempo forte de quarenta dias, tem por finalidade preparar-nos bem para celebrarmos outro tempo fortíssimo que é a Páscoa do Senhor Jesus. Para tanto, ela surge justamente com tão grande finalidade: “favorecer uma participação mais profunda e mais intensa no mistério pascal de Cristo. É a resposta ao convite de Paulo a celebrar a Páscoa não com o velho fermento, nem com o fermento de malícia e perversidade, mas com pães sem fermento, isto é, na sinceridade e na verdade” (1 Cor 5, 8). Para se adentrar em um mistério tão grande e profundo, que é a Páscoa, faz-se mister que sejamos instruídos com tão significativa preparação.
O Tempo da Quaresma é o tempo do êxodo que o Pai o abre para nós, seu Povo, como assim atesta a própria Liturgia da Igreja no Prefácio V da Quaresma, quando afirma: “Vós reabris para a Igreja, durante esta Quaresma, a estrada do Êxodo, para que ela, aos pés da montanha sagrada, humildemente tome consciência de sua vocação de povo da aliança. E, celebrando vossos louvores, escute vossa Palavra e experimente os vossos prodígios”.
A Quaresma é, pois, o tempo da graça de Deus por assim dizer. Neste tempo somos chamados a vivenciar com maior intensidade a prática da penitência, da oração, do jejum e da escuta intensa à Palavra de Deus. Se nos deixarmos conduzir pelo Espírito de Cristo, levando a sério estas práticas ascéticas, com certeza a graça da conversão surtirá seu devido efeito.
Em seu sermão de número 06, sobre a Quaresma, diz-nos São Leão Magno, papa: “Por conseguinte, amados filhos, aquilo que cada cristão deve praticar em todo tempo, deve praticá-lo agora com maior zelo e piedade, para cumprir a prescrição, que remonta aos apóstolos, de jejuar quarenta dias, não somente reduzindo os alimentos, mas sobretudo abstendo-se do pecado”. Eis, pois, como devemos viver este tempo propício, este kairós, mais do que nunca, deixando que a Palavra de Deus seja também Palavra de Deus em nossas vidas. Que ela nos toque, nos fira, provoque em nós o espírito do verdadeiro arrependimento, para que assim, quais “filhos pródigos”, regressando ao Pai das misercórdias, tenhamos a certeza de contar com o seu amplexo de verdadeira acolhida e aceitação como filhos queridos e amados, que somos, visto que Ele é “clemente e compassivo, paciente e misericordioso” ( Jl 2, 12), sempre disposto a nos perdoar.
Que, com o coração penitente, obsevando estes ritos anuais, possamos dar cada vez mais testemunho no crescimento de uma vida pautada na virtude, justiça e santidade! Que diante de tal procedimento, possamos, pois atender àquela exigência de Jesus, de sermos “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5, 13-14).
“Dai-nos, ó Cristo, no tempo aceitável, um coração penitente, que se converta e acolha o vosso amor paciente”.
Que todos tenhamos um profícuo e abençoado tempo quaresmal! Que ele possa nos valer a pena em nossa marcha para a Páscoa, a fim de que, de Quaresma em Quaresma, bem vivenciadas, cheguemos um dia a desfrutar das alegrias da Páscoa definitiva, na Casa do Pai, com todos os Seus eleitos, recompensados com uma eternidade feliz!
Delmiro Gouveia-AL, 17 de fevereiro de 2021
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