As pessoas de minha aproximação sabem que sou casado com Maria José, nascida na Fazenda Samambaia, município de Jacaré dos Homens. Fui buscar longe, mesmo sabendo do ciúme e da “brabeza” dos seus irmãos. Tudo balela. A bem da verdade eles queriam mesmo era “pegar o pato”.
Na época do enlace matrimonial eu já residia em Recife e nas minhas andanças para Jacaré eu me deparava, vez por outra, com uma figura emblemática, que tinha uma deficiência física que lhe proporcionava certa dificuldade de locomoção, e era conhecido pelo cognome de Luiz Canelinha.
Com o passar do tempo descobri que se tratava de Luiz Nery, filho de tradicional família jacareense, e que havia determinada afinidade dele com minha pessoa, por ser irmão de Davi Nery, este casado com Tina, irmã de minha mulher, meu concunhado, portanto. Como todo ser humano o enfatizado tinha defeitos e virtudes, também. Uma insinuação maldosa, a ele atribuída, era que falava “pelos cotovelos”, quando atingia um alto estado de alcoolemia, provocado pela ingestão da “marvada pinga”. Uma definição subjetiva, no meu modo de ver, porque todos os apreciadores da “água que passarinho não bebe” agem invariavelmente da mesma forma.
Contudo, o Luiz carregava consigo uma louvável virtude, poucamente evidenciada. Era escritor, poeta, um verdadeiro amante das letras, além de ser um indivíduo possuidor de um sentimento nativista bastante evidenciado. Não me cabe julgar se ele foi injustiçado ou não, por não ter tido seus atributos intelectuais reconhecidos. O que posso afirmar é que eu apreciava os assuntos que ele abordava, com desembaraço. O tempo, cumprindo sua ininterrompível missão, levou Canelinha para o reino dos justos, sem ter tido um só registro dos seus dotes literários publicado. Segundo pude apurar há comentários sobre a existência de alguns escritos, em forma de folhetins, cujas localizações não se têm notícias do destino.
Há poucos dias recebi, para meu gáudio, de Zezinho Fernandes (forasteiro como eu), dois trabalhos em vídeo, do Luiz Canelinha, sendo um dos quais uma declamação do próprio, sobre a emancipação política de Jacaré dos Homens, quando do desmembramento do município de Pão de Açúcar, e o outro com a apresentação, por um grupo musical local, de uma obra intitulada “Do Agreste ao Sertão”, com letra do focalizado e música de Cícero Cajé. Trata-se de uma mensagem simples, que ficou valorizada pela boa qualidade da composição musical.
Longe de querer “meter o nariz” onde não fui chamado, entendo que seria muito importante que algum órgão do município, ligado à cultura, encampasse a ideia de resgatar a memória deste filho ilustre porque, penso eu, a falta de reconhecimento é uma condicionante inominável. Ainda há tempo.
Praia de Peroba – Maragogi – fevereiro/2021
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