O NATAL E NOSSA FAMÍLIA

Crônicas

Remi Bastos

Mais um natal está chegando e com ele as lembranças de um passado escrito com as tintas das nossas recordações. Lembro-me quando criança, até os meus dez anos de idade, éramos somente sete irmãos, Renilce, Remi, Remilton, Renilde, Railton, Railda e Rose, vivívamos como aves amparadas pelas asas de nossos pais. Como mamãe concebia um filho a cada ano e as tarefas de casa aos pouco ia se avolumando, nossa avó materna Elódia Bastos, a qual chamávamos de Dindinha, resolveu ficar com o Railton por alguns dias, terminando por criá-lo com todo amor de avó e mãe. Para nós o mundo era aquele pequeno espaço limitado pelos compartimentos da nossa humilde casa e um quintal com cercas de varas onde realizávamos as nossas brincadeiras de criança, ali na Rua dos Machados em Santana do Ipanema. Mamãe era a nossa mediadora, os cuidados da família giravam em torno dela: a cozinha, a limpeza das nossas roupas, a confecção das fardas escolares, a hora de acordar para ir ao Grupo Escolar Padre Francisco Correia, o lanche para o recreio, e acima de tudo, a educação compartilhada com todos. Moramos na Rua dos Machados por dois anos, quando em 1953, nos mudamos para o Bairro do Monumento, fomos residir em uma casa de aluguel pertencente ao senhor João José, em uma rua perpendicular a Avenida Nossa Senhora de Fátima, e que anos depois pela sua ampliação foi denominada de Avenida Prefeito Adeildo Nepomuceno Marques, em homenagem àquele consagrado um dos maiores prefeitos que Santana já teve em sua história política e administrativa. Um ano depois papai comprou um terreno ao fazendeiro e comerciante, homem de bem, chamado Abílio Pereira de Melo, e com o suor do seu trabalho na qualidade de Guarda Chefe do extinto Departamento de Nacional de Endemias Rurais – DNERU conseguiu construir a nossa casinha, palco das histórias de nossas vidas.

Ainda escuto o chiado do chinelo de mamãe, todos os dias bem cedinho, indo ao cercado que existia ao fundo de nossa casa, catar cavacos para acender o fogo em um fogão de alvenaria e preparar o nosso café. Depois de tudo pronto nos acordava e após os nossos primeiros asseios, tomávamos aquele café tão cheio de pureza, para em seguida partimos para o Grupo Escolar. No início somente eu (Remi), Renilce, Remilton e Renilde estudávamos, Railda e Rose ainda não tinham idade. Nesse período era costume mamãe, à tardezinha, pegar as sobras do almoço, reunir os filhos a sua volta e fazer bolinhos com as mãos como sempre gostava de comer e distribuir com todos. Tinha sempre alguém que dizia, eu quero mais, era eu, Remi. Posteriormente, a cada ano, nasceu Rogéria, Roseane, Risomar e Rute, a caçula. Nessas alturas, com a família maior, coube a Renilce e Renilde (Dinha) desafogarem um pouco a nossa incansável mãe nos afazeres domésticos. Fomos crescendo, o Grupo Escolar Padre Francisco Correia já não oferecia espaços para alguns de nós. Tínhamos pela frente o vestibularzinho conhecido na época de “Admissão”, uma espécie de passaporte para entrar para o tão querido e temível Ginásio Santana.

Renilce foi a primeira a sentar-se nos bancos do Ginásio Santana, em seguida, fui eu, e mais adiante Remilton e Railda. Renilde só veio estudar no Ginásio, posteriormente, pois, passou alguns anos morando com a minha avó Dindinha em Recife/PE. Concluímos o Ginásio, Renilce, Renilde e Railda fizeram Curso Normal, Remilton (Mitinho) já estava empregado na “Casa o Ferrageiro”, enquanto eu, fui estudar em Palmeira dos Índios onde iniciaria o Curso Colegial ou Científico, uma vez que o meu sonho era de me formar e ser doutor.

Hoje, mais um natal que se aproxima e nos faz lembrar aquele Papai Noel que não conhecemos em nossa infância, apenas as canções natalinas ressoam em nossos ouvidos lembrando aqueles anos em que sorríamos e chorávamos ao lado dos nossos queridos e inesquecíveis pais. Mesmo assim sinto saudade de tudo, queria ser criança outra vez, poder sentir aquela felicidade natalina ao ganhar de Papai Noel uma bola de borracha vermelha e preta, meu único presente; de ouvir o sorriso e o choro dos meus irmãos mais novos nos braços de mamãe; de sentar nos bancos do Grupo Escolar; do reforço na Escolinha de Dona Flora e da importância de ser aluno do Ginásio Santana. Que neste natal o Menino Jesus em sua humilde manjedoura sorria para nós e nos abençoe. Que mesmo distante, alguns, não se esqueçam do vínculo que nos envolvem e que não nos afastemos, nem esqueçamos que viemos todos de um mesmo sopro divino expirados por papai e mamãe.

Feliz Natal meus irmãos, eu amo vocês.

Aracaju/SE, 20/12/2013.

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