ZÉ OIÉLA, A QUENGA E OS ENSINAMENTOS DE CHICO SOARES

Crônicas

Remi Bastos

Lembro-me bem, era o início dos anos 60, as brincadeiras de adolescente giravam em torno dos jogos de ximbra, pinhão, castanha, notas de cigarros e caçadas com peteca (baleadeira), etc. Era a fase também das bicicletas, montadas por Jorge Marques, Tinho de Airton Batinga, Manoel Valter, Zé Gentil, Manoel Cirilo (Mané do Bode) e Zé Limeira, estes dois últimos com idades mais avançadas. No entanto, das brincadeiras praticadas pelos meninos da época, a peteca e a ximbra eram as que mais se destacavam. Geralmente os espaços destinados à prática dos jogos com ximbra situava-se em frente ao Ginásio Santana, às sombras dos pés de figo nas adjacências da igrejinha do Monumento Nossa Senhora da Assunção, atualmente Praça Dr. Adelson Isaac de Miranda. Era ali que a meninada convergia todas as tardes para disputar as suas habilidades com a ximbra. Diversos amigos tomavam parte nos prélios disputados, entre eles: Chico Soares, Gaspar, Remilton (Mitinho), Benedito Abreu (o Biu Cego), Mané irmão de Ismar, Durval Nobre seu primo conhecido por Zé Oiéla, além de mim.

O Chico Soares era um exímio jogador de ximbra, na expressão nossa, “afubiava” (alisava) qualquer um sem o menor esforço. Tínhamos sempre que recorrer ao Chico para comprar ximbras, pois éramos os “afubiados”. Uma de suas expressões era: vá pedir dinheiro ao papai para comprar ximbra, diga assim, Chico me “afubiou”. O Zé Oiéla era um meninote de boa aparência, mais alto que os demais, cabelos castanhos escorridos, nariz afilado e pela sua estatura avantajada deveria reforçar os pés com um tremendo sapato ou pisante número 44. Pessoa calma nunca o vira discutir ou brigar com algum amigo, o Zé Oiéla era realmente um indivíduo sem maldade e acessível a qualquer situação. Por outro lado, o Chico Soares possuía uma sensibilidade espiritual mais apurada e apesar da idade ainda caloura, gozava de uma experiência de vida bastante evoluída para a época. Tinha como amigos do cotidiano, Denancy e Sombra filho de Zé Sobral. Este famoso trio conhecia como ninguém as noitadas de Santana, eram frequentadores assíduos dos cabarés de Brejão, Artur Morais, Ivone, além do pinga-pinga na descida para o riacho Camoxinga, na divisória da propriedade de Frederico Rocha onde davam aulas de gafieira.

Geralmente os bancos da pracinha funcionavam como um senadinho onde ali as fofocas e resenhas eram postas em dia. O Zé Oiéla pela sua timidez, ouvia atento as histórias contadas, apenas sorria com os contos da turma, principalmente com as experiências sexuais narradas por Chico Soares.

Certa vez o Durval Nobre revelou para alguém que o Zé era donzelo. Essa confissão foi motivo para que o Chico Soares contratasse uma quenga de quinta categoria para iniciar uma cantada no Zé Oiéla. Pois bem, depois de tudo combinado, já por volta das 20 horas, desceu um grupo de três ou quatro “bruguelos” rumo ao cabaré, simulando ver um acidente com um carro no aterro do Padre. Foram direto ao pinga-pinga, onde lá se encontrariam com o Chico Soares que os aguardavam juntamente com a quenga, de sobreaviso. Ao chegarem, os quatros foram recepcionados pelo Chico na entrada do cabaré, onde ali, sentados ouviram do anfitrião histórias e causos sexuais, tudo isso para estimular o Zé Oiéla. De repente surge a rameira fingindo ter se engaçado do Zé, na medida em que o acariciava. Rendendo-se aos afagos da meretriz, o Zé Oiéla aceitou o convite de ir para o quarto a dois, enquanto os amigos ficaram brechando os acontecimentos pelas brechas da porta. Foram várias as tentativas da quenga para assanhar o Zé e nada funcionava, o nervosismo tomara conta do estreante. Havia passado mais de uma hora sem que o Zé correspondesse aos carinhos da mulher pública, não se excitava. Impaciente a rameira pede ao Zé Oiéla para ficar de cócoras sobre a cama, e que fechasse os olhos e só os abrissem quando ela ordenasse. Pois bem, apagou as luzes cantando um pouco baixo a música, “A ema gemeu”, no momento em que destravou a porta sem que o suplicante percebesse. Em seguida retornou ao Zé já de roupa trocada, ele ainda de cócoras, e o pediu que colocasse as duas mãos no queixo. Não deu outra, ela deu uma bolacha com as duas mãos nos testículos do Zé que este soltou um grito dizendo, “Aiiiii Mamãeeeeeeeeee”, enquanto aquela desapareceu nas vielas dos cabarés, deixando para trás o Zé Oiéla e aturma rindo a valer. Resumindo, o Zé Oiéla passou mais de quinze dias sem dar o ar de sua graça no senadinho da Pracinha do Monumento. Por onde andam o Durval Nobre e Zé Oiéla?

Aracaju/SE, 24/12/2013.

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