O fato se deu há algum tempo, eu trabalhava na Construtora Mundaú do Dr. Odilon de Souza Leão, estávamos construindo edifícios na Ponta Verde. Todos os sábados depois de um giro nas obras, pagamento de funcionário, nos juntávamos a bons amigos para uma cerveja, início de fim-de-semana. Certo sábado numa mesa do Bar do Alípio na Lagoa compostas por mais saudáveis boêmios, Odilon, Zé Alexandre, Maninho Wucherer, Zé Cabelinho, Jambo, Daniel Quintela entre outros, a bebida e comida rolando, apareceu o mestre Mano apavorado, um pedreiro fazendo hora extra havia caído do quinto andar, a felicidade foram os andaimes, caixotes de papelão e um monte de areia, minimizaram o impacto da queda, o pedreiro estava no Pronto Socorro em observação. Eu era o engenheiro da obra, larguei o gostoso e privilegiado papo, corri ao Hospital.
Levaram-me ao acidentado na enfermaria. Pedro, excelente pedreiro de acabamento, deitado numa cama dormia com um lençol cobrindo, o médico informou estar fora de perigo, porém, um probleminha, a queda, a batida na cabeça havia causado um priapismo. Ignorante, perguntei o que vinha a ser o problema, o médico explicou, priapismo é uma ereção contínua, persistente, sem necessariamente sentir desejo sexual, não houve possibilidade de murchar, já havia colocado água fria, álcool, e o bicho continuava indefectívelmente duro.
Depois de prestar assistência, retornei imediatamente ao Bar do Alípio informar ao chefe as providências tomadas . O assunto da tarde foi o priapismo, teve coroa com idéia de se jogar lá do quinto andar, tentativa de revigorar seus apetrechos.
Na segunda-feira um semanário deu a notícia em primeira mão, “Pedreiro cai do quinto andar, salva-se graças a um monte de areia, entretanto, está com uma seqüela inusitada, o priaprismo”. O jornalista contou com detalhes o significado, nada baixou nas últimas 48 horas. Fomos visitar Pedro. O médico previu no mínimo trinta dias de cama e aconselhou ficar em algum hospital. Assim Pedro foi transferido para uma Casa de Saúde, com quase todo corpo enfaixado. Apenas uma parte livre, firme, dura e forte.
A partir desse dia, não houve mais sossego para Pedro. Foi visitado por curiosos, por pessoas interessadas em estudar o fenômeno. Uma turma de estudantes de medicina acompanhou o caso diariamente. Algumas meninas foram de tamanha dedicação que davam plantão à noite. Conseguiram um apartamento exclusivo para o pobre pedreiro tão machucado.
Havia uma espontânea compaixão por aquele doente. Algumas visitas voluntárias, com sacrifício, até dormiam como acompanhante, uma mostra de solidariedade humana.
Os dias passaram. Pedro foi se recuperando dos ossos quebrados, mas o priapismo continuava desafiando a medicina. Mesmo com toda solidariedade, o “pênis-erectus” permanecia.
Contrataram algumas meninas da Boate Areia Branca do famoso Mossoró. Várias tentativas aconteceram, nada de amolentar. Pedro já se sentia incomodado, mesmo com tanta gente caritativa dando conforto.
Depois de 27 dias e 26 noites de ininterrupta rijeza, alguém lembrou Dolores, respeitada mãe-de-santo, quando jovem trabalhou em Jaraguá. Ficou muito conhecida dos boêmios pelos seus dotes e serviços completos, sábia e mestra sem nunca ter lido o Kama-Sutra, fazia um “frango-assado” como ninguém. Sem que os médicos soubessem levaram Dolores. Ela trancou-se com Pedro no apartamento, levou ramos e óleos. Quarenta minutos se passaram quando ouviram um barulho, baque de um corpo no chão. Bateram à porta, gritaram afobados.
Dolores Sierra abriu a porta e saiu toda faceira, como uma rainha, sorria maravilhosamente, cara desavergonhada. Dentro do quarto, Pedro deitado no chão, olhando a parte afetada, comemorava: “Conseguiu, conseguiu viva Dolores!”
PRIAPISMO
Crônicaspor Carlito Lima 15/02/2013 - 09h 53min

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