Santana do Ipanema, 01 de março de 1965, segunda-feira, data em que foi fundado o Bloco Pau D’arco, sendo, porém, a data oficial de sua fundação o dia 25 de fevereiro deste mesmo ano. Acontece que naquela época o carnaval era uma festa esperada por muitos foliões santanenses que aproveitavam a semana pré-carnavalesca ou maratona para iniciarem ali a festa momesca. Foi justamente às onze horas e quarenta e cinco minutos do dia 1º de março de 1965, segundo dia de carnaval, quando eu retornava do antigo Pinguim, atualmente Toca do Pato, ali na Pracinha do Monumento, hoje Praça Dr. Adelson Miranda, dei de cara com o amigo Benedito Soares já no portão da minha casa. Incontinenti ouvi do Biu a seguinte expressão: “Não a-acredito que do-dois biriteiros se-se encontrem numa se-segunda-feira de carnaval a esta hora sem ter to-tomado uma”. Imediatamente recolhi alguns trocados do meu velho pai e dirigi-me a Sede dos Artistas para comprar uma meiota da famosa Pitu, enquanto o Biu ficou aguardando o meu retorno com a munição. Arranjamos-nos ali mesmo na área, peguei o violão Tonante do mano Mitinho e começamos ensaiar a marchinha, “Você pensa que cachaça é água”. Benedito já havia tomado três doses avantajadas, mas, até aí não cantava nada, somente eu que me esgoelava na marchinha. Após esvaziarmos a meiota, o bloco já estava formado e ganhou por unanimidade o título de Bloco Pau D’arco. Seguimos pela Avenida Prefeito Adeildo Nepomuceno Marques, ao passarmos em frente à casa de Seu Evilázio os olhos do Biu confiscou a mesa repleta de bebidas, não deu outra, adentramos ao sacrossanto lar sem encontrarmos resistência àquele oásis etílico. Fomos bem recebidos pelo anfitrião, e como era a primeira casa nos detemos ali por mais ou menos trinta minutos, comigo cantando e tocando, enquanto o Benedito para pegar carga usava o método “três por um”, ou seja, três doses de Ron Montila e um copo de cerveja. Nessas alturas dos acontecimentos já sabíamos quais as casas a serem visitadas pelo calouro bloco. Agradecemos ao Sr. Evilázio pela acolhida e partimos rumo à casa de Sr. Zé Soares. Ao deixarmos a primeira casa visitada, senti uma reação do Biu, catou um penico velho no lixo e a partir daí deu início a percussão.
Chegamos à casa de Seu Zé Soares, a alegria foi geral, Xogoió ainda menino, um pivinha como ele mesmo se autodenominava, ao ver o bloco reverenciando a mesa farta, foi logo dizendo em voz alta: “isso é que é um bloco, pode beber e comer a vontade, e se quiserem podem voltar mais tarde”. E aí, mais uma vez o Biu se fartou, nessas alturas já cantava mais alto que eu e ainda dizia: “não pa-pare não negão. Após agradecermos cantando a mesma marchinha, partimos rumo a casa de Dona Lila Carvalho. Benedito animado igualmente mosca no lixo batia no penico e às vezes colocava o instrumento na cabeça. Ao chegarmos diante a casa de Dona Lila, esta sem hesitar abriu a porta e me perguntou: Remi cadê o bloco? Respondi estamos aqui, eu e Benedito, e fomos direto a mesa que nos aguardava sob o carisma daquela família tão hospitaleira e amiga. Cantamos aí a marcha “Você pensa que cachaça é água” umas quinze vezes seguidas, e Dona Lila não esgotava aquela bondade. Enquanto isso, Seu Manezinho lá do quarto dizia, Remi é um peste, faz que bebe e Benedito é quem se lasca. Após a casa de Dona Lila, seguimos cantando com destino a casa de Dona Jacira, a “fada dos nossos pastoris, violão apenas com três cordas não nos intimidava de completarmos o tanque, e já sem entender mais nada, decidimos usar o método vai e vem, casa de Dona Jacira, casa de Dona Lila, isso por três ou quatro vezes. Benedito já não me acompanhava e quase não conseguia falar, apenas assobiava, ne-negão fiu, fiu. Quando me acordei já era terça-feira, o último dia de carnaval, fui procurar o Biu e esse me perguntou: “Va-vamos nas mesmas casas hoje?”
É Benedito ou Biu dedico a você toda esta lembrança, lembrança de um tempo que passou, mas, que não conseguiu apagar a nossa amizade nem abrandar a essência dos nossos divertimentos. O Bloco Pau D’arco continua desfilando na passarela do meu pensamento, e com certeza você vai está sempre ao meu lado cantando, fazendo a percussão e tomando umas no cordão do Bloco carnavalesco que deixou saudade.
Aracaju/SE, 06/02/2013.
UM BLOCO CARNAVALESCO QUE DEIXOU SAUDADES
CrônicasRemi Bastos 06/02/2013 - 20h 24min

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