A cadeira de balanço balança.
O tempo finca no chão as marcas do vai-e-vem de ferro da cadeira.
O telhado, a fumaça negra do carvão, a minha mãe desgostosa, cheia de talhos por dentro, investiga as goteiras da casa com ares de mater dolorosa.
A cadeira de balanço balança as horas,
e no meu braço, as marcas do ferro do braço da cadeira,
fazem sulcos, que começam a doer à lembrança
do quanto os ponteiros marcam o tempo em minha pele.
O fogão encostado à parede, as visitas, o carteiro na porta,
a correria sem nenhuma razão aparente,
na presença súbita de um monte de gatos que cruzam a cozinha em disparada,
e a minha avó, que se balança num tempo sem-fim,
Canta, reza, gargalha,
e marca no tempo a minha saudade,
o vai-e-vem da cadeira,
e a minha memória.
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