Romy era uma menina tranquila, sempre gentil e feliz. Gostava de conversar com ela. Era mais velha do que eu, sabia das coisas sensatas. Morava com os avós maternos, lá na rua Coronel Lucena. Não tinha outra família. A mãe, um pouco desmiolada, não se preocupava com os filhos que nasciam sem um pai para ajudar a criar. Lembro dessa época. Antes, ela estudava em um colégio interno em Maceió.
Romy costurava e eu conversava com ela, sentada ao lado da máquina. Ficava ali, e ela, ás vezes cantava, “não vou brincar, não vou brincar, papai me disse que eu preciso estudar...”. Às vezes, ponderava sobre sua vida. Não falava com rancor, discorria até com entusiasmo fatos tão importantes que lhes pertenciam. Relatava que estava muito feliz, ia conhecer o pai. Sua mãe, também de outros filhos, nunca lhe falou quem era o seu pai. Alguma pessoa de sua amizade encarregou-se de marcar um encontro com ela e o pai. Ele era um soldado da Policia Militar e morava em Maceió. Iam se encontrar na Praça dos Martírios em Maceió. Falava-me do encontro com grande felicidade.
Admirava em Romy sua simplicidade. Não era uma menina triste. Tenho certeza que recebia muito carinho dos avós e dos tios que a criaram. Encontrou-se com o pai e ele deixou claro que tinha outra família em Maceió. Ela aceitava o fato e continuava a ser aquela jovem sensata que sempre foi. Formou-se professora, tornou-se independente, e nunca deixou de visitar a família que muito a amou. Sua mãe podia ser um peso para a família, mesmo assim, continuava ter filhos, como se fosse uma dádiva. Fora amparada por uma amiga que dela cuidou até seus últimos dias.
A mãe de Romy não se concentrava em nada que a fizesse crescer como pessoa. Não estudava, não trabalhava como as irmãs. Era amiga de Sílvia que sempre a apoiava em momentos difíceis. Amparava-a e prometia que a ajudaria quando fosse morar com um doutor recém chegado em Santana. Ele era casado em Maceió, mesmo assim, fazia a promessa. A mãe de Romy não se responsabilizava pelos filhos que tinha todos os anos. Eles ficavam com sua família. Os pais de Cleide sofriam com a situação causada pela filha. Acolhiam os netos. O que fazer? Eram cinco filhos. Romy, a primeira.
O doutor cumpriu a promessa e construiu um lar com a amiga de Cleide. Assim, a amiga oferecia ajuda aos irmãos de Romy. Quando sua mãe morreu, a família respirou aliviada. Agora ela teria a paz que não teve em sua vida. Era uma pessoa intranquila, não parava em um lugar. Talvez fosse o motivo de sempre ter um novo filho. Não se detinha para pensar nas consequências. A amiga de Cleide mudou-se para Maceió. Estava com o doutor e convidou Romy para morar com ela. A jovem professora e a amiga de sua mãe assumem o compromisso com os meninos órfãos. Eles cresceram e ficaram independentes. Romy encontrou o grande amor, mas, para ela estava reservada uma grande surpresa. Ao ser apresentada aos pais do noivo, teve que desistir do casamento. O pai de seu noivo era o seu pai. Aquele que não a quis reconhecer como filha. Terminam o noivado. Os dois não se conformam e investigam a vida passada do casal.
Voltando ao passado lá de Santana do Ipanema, aconteceu o romance entre o pai de Marcos e a mãe de Romy. Na época, ele trabalhava na cidade. Não reconheceu a filha, era casado em Maceió. Sua esposa, sozinha em Maceió, também ficou grávida. Desfaz-se a confusão. Romy e Marcos não são irmãos. Finalmente, a jovem realiza o sonho de ter sua própria vida.
Comentários