ZECA GASOLINA

Crônicas

Carlito Lima

Nada tenho com a vida alheia, não estou aqui para julgar, nem quero ser fiscal das almas humanas transviadas. Sou um simples contador de história, narro os fatos como me aparecem, como me contam, sem julgamento. O leitor amigo certamente está bem mais qualificado a julgar as histórias aqui narradas. Deixando a vã e inútil filosofia de lado, sigo meu destino de narrador, conto o caso como o caso foi, um homem é um homem, um boi é um boi. Julguem os senhores a verdadeira história de Zeca Gasolina.
Ele nasceu com nome de José Maria no dia 19 de março, pegou o apelido de Zeca desde menino. Nasceu e criou-se numa bucólica cidade esparramada de coqueiros e de lagoas exuberantes. Foi menino problemático, colegas tinham medo de suas maledicências. Não podia ver os companheiros em traquinagens, fuxicava logo ao professor. O maior “dedo duro” na juventude. Não fazia a intriga, a entrega, para prejudicar o colega, fazia pelo prazer de puxar o saco dos poderosos. Os amigos botavam Zeca no gelo, ele não importava, continuava delatando, detratando os companheiros aos professores e aos pais. Zeca é mau caráter de nascença, sem pudor, sem escrúpulos, sua satisfação é bajular. Sonha um dia ser deputado. Ruim nos estudos, para ajudar nas despesas, a mãe conseguiu-lhe um emprego na farmácia de Seu Juvenal. As más línguas comentam essa amizade, o farmacêutico aplica um tipo especial de injeção na mãe de Zeca, viúva aprumada, dá para o gasto, e para o farmacêutico.
Além da bajulação, Zeca tem outra mania, carro. Fascinado por qualquer tipo de veículo, conhece todas as marcas, sua maior distração é assistir corrida de Fórmula 1. Vive puxando o saco de quem tem carro, só por uma voltinha. Faz de tudo para guiar um automóvel, se prontificava a ser motorista, lavar o carro, o que lhe interessa é dirigir. Essa alucinação por automóvel lhe deu o apelido complementar, Zeca Gasolina.
Ele também é chegado a uma mulher, entretanto, nunca foi de namorar, sempre gostou de rapariga, freguês assíduo de uma boate perto da estrada.
Há pouco mais de dois anos, uma prima, muito gostosa, reapareceu, retornou à cidade depois de algum tempo em São Paulo, ninguém sabia o que a bonita moça fazia no Sul. Algumas vezes passou férias, sozinha, na terrinha, sempre esbanjando charme com boas roupas. Os velhos amigos provocavam perguntando quem pagava aquele luxo.
Marluce retornou triste com a morte da avó que a criou. Depois de visitar o cemitério sentiu-se só, herdou um belo sítio à beira da lagoa. Alegrou-se ao ver o primo Zeca, o que restava na família. Conversaram muito, ficou feliz em saber que apesar de mais de 40 anos, ele ainda era solteiro.
Encontraram-se várias vezes. Zeca foi ao sítio, ajudou a arrumar o quintal, sujo desde a morte da velha. A própria Marluce deu a idéia, por que não se casavam? Eram maiores, já coroas, sem filhos, parentes, as pessoas precisam de carinho humano de um travesseiro na hora de dormir. Zeca ficou chocado e ao mesmo tempo gratificado com a proposta da prima gostosa. Dias depois ele procurou Marluce no sítio, ela assistia novela na televisão, deitada no sofá, um short curto mostrava suas belas pernas. Zeca encantado com a beleza da prima, depois de muito conversar, perguntou se a proposta do casamento permanecia. Ela com um sorriso maroto, disse o sim. Os dois se abraçaram, fizeram amor, pela primeira vez, no sofá da sala.
Uma semana depois se casaram. Com a aliança no dedo Marluce se mostrou controladora, dominadora, brigaram muito. Dois anos se passaram, o amor não entrou no casal. Zeca voltou a raparigar, freqüentar boates.
No início desse ano começou a reconstrução e duplicação da rodagem, o engenheiro chefe da obra alugou uma bela casa na cidade. Certa noite de festa, Zeca conheceu o engenheiro Maurício, as esposas também, tornaram-se amigas. O construtor, tremendo mulherengo, ficou de olho na mulher do novo amigo, ela correspondeu trocando alisados nos pés por baixo da mesa, enquanto o marido ficou de olho no carro Ford do engenheiro. Muito gentil Maurício empresta o carro à Zeca, nosso amigo dirige o Ford Mondeo a toda hora. O engenheiro contratou-o na construtora como comprador, todo dia manda Zeca à capital, ele vai com maior satisfação; dirigir o Mundeo é quase um orgasmo. Quem vive em orgasmos verdadeiros é Marluce quando recebe visita no sítio; Maurício aparece com um velho Fiat, passam a tarde juntos, enquanto Zeca Gasolina fascinado, enfeitiçado, se empolga, se delicia, dirigindo o Mundeo 2010 estrada a fora.

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