Lembro-me com saudade
Da minha infância querida,
Das primaveras floridas
Que os anos não trazem mais,
Dos vôos dos colibris
Beijando a flor do velande,
Do cheiro da terra molhada
E das lindas madrugadas
Na Fazenda Laje Grande.
O velho casarão de taipa
Alpendrado e chão batido,
Conservava o colorido
Dos tempos dos meus avós,
Na minha mente singela
Um sonho lindo acordado,
Sob a luz do candeeiro
Eu viajava o mundo inteiro
Naquele reino encantado.
Fazenda Laje Grande,
Meu pedacinho de chão
Onde ali com meus irmãos
Vivi momentos felizes,
Corri livre pelos campos
De camisa aberta ao peito,
E na singeleza do meu leito
Adormecia sorrindo
Contemplando os pirilampos.
A rotina da fazenda
Começava com o arrebol,
Cedinho ao nascer do sol
Naquele céu vermelhão,
Chocalhavam as ovelhas
E o gado no curral,
Cantava o galo no poleiro
E as galinhas no terreiro
Davam vida ao quintal.
As velhas imburanas,
Os angicos e pereiros,
E os frondosos juazeiros
Que existiam na fazenda,
Tinha também os bons-nomes,
Cedros, catingueiras
E os pés de quixabeiras
Que brotavam na caatinga
Sem a intervenção do homem.
As caçadas com peteca
Nas entranhas da caatinga,
Tudo isso lembro ainda
Como se fosse hoje,
As brincadeiras de pião,
Chimbra e castanha
Às sombras dos cajueiros,
E os banhos na barragem
Da fazenda Cinco Imbuzeiros.
Os jogos com bola de meia
Nos campos improvisados
São lembranças do passado
Que o tempo não ressuscita
Os amigos de infância
Abdias de João Lexandre,
Gobeu e Nego Oscar
Que salvou a minha vida
Quando eu ia me afogar.
Noé de Mané Guedes,
Onildo, João de Santina,
Mané de Dona Juvina,
Ciço de Quinca e Mané Bunda,
São lembranças profundas
Que Deus me presenteou,
Fui um menino perfeito
Que guardou dentro do peito
O tempo bom que passou.
Dos amigos de meus pais
Relembro todos com carinho,
Pois, foi lá naquele cantinho
Na Fazenda Laje Grande
Que nos trataram com cuidado,
Zé Wanderley, Dona Nenê,
Seu Sinhozinho, Dona Bizi,
Chico Vieira e Dona Iraci
E Chocolate, o Delegado.
Seu Marinho e Dona Aurora,
E Estelita de Seu Dantas,
Aquele nó na garganta
Que meu pai sentiu calado
Ao se despedir dos amigos
Mesmo contra sua gana,
Deixando pra trás
A Usina Riacho Grande
Com destino a Santana
Aos meus queridos avós
Antônio Ricardo e Dorothea,
Meus pais Zeca e Aristhea
E toda nossa família,
Manoel, José Geraldo
Maria Helena, Ana Maria
Paulo Jorge, José Hugo
E este Velho Capiá
Luiz Antônio de Farias.
Sem esquecer do Francisco,
O mano Tamanquinho
Que ainda pequenininho
Teve três irmãos caçulas,
Luiz Adelmo, Verônica
E Maria Dorothea
Que viajou de boléia
Ao deixar a minha terra
Na barriga da mamãe.
Adeus fazenda querida
Berço dos meus avós,
Hoje vivemos sós
Num oceano de saudade,
Eu aqui e você lá
Nesta distância malvada,
Eu aqui na violência,
Você aí na inocência
Desta terra tão amada.
Aracaju, 30/12/2009.
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