O MORCEGO E OS QUIBAS

Crônicas

Antonio Machado*

A capela do Pedrão é muito antiga, construída nos idos de 1875, provavelmente, pelo cidadão Ponciano Machado, sendo em linha reta bisavô deste cronista. Casa velha fechada somente aos domingos se abria as portas para se oficiar o terço, e uma vez por mês o padre celebra uma missa.
A capela dedicada a Imaculada Conceição, tem sido palco de muitas cenas engraçadas, uma delas ocorrida lá por volta de 1940, duas beatas da capela, Adília e Madalena, se desentenderam, e uma morava ao lado da capela, que de uma das portas laterais, via-se muito a casa da outra. No desentendimento, a que ganhou a questão, Madalena, que tinha uma profissão inusitada para a época, além de cantora de igreja, acumulava as profissões de parteira, barbeira e sapateira do povoado. Em sendo uma pessoa autoritária, ordenou de imediato, que se fechasse a porta que dava acesso a casa de sua desafeta, e por cerca de vinte longos anos, a inditosa porta passou fechada. Após esse período coube ao cidadão Isaú Ferreira Gomes, a iniciativa de reabri-la.
Outro fato curioso ocorreu, quando o padre fazia um sermão longo. Na ocasião, Mané Gagão, mas que o chamavam de Mané Cagão, apelido esse que ele não gostava. Mané Gagão assistia o sermão do vigário sentado numa cadeira antiga pertencente à Janoca, cuja cadeira tinha um buraco bem no meio, que era para velha bufá.
Igreja cheia, calor escaldante, Mané acomodado na cadeira começou a cochilar, e como não usava cueca, a calça rasgou-se os quibas desceram pelo buraco da calça e passaram pelo o da cadeira, e ficou o molho pendurado em baixo.
Um morcego desavisado começou a rondar por dentro da capela, passando em vôos rasantes nas cabeças das pessoas, procurando um lugar para pousar, foi quando o inusitado aconteceu, parou justamente, nos quibas de Mané, que cochilava a peito solto, sem se aperceber da presença do animal nos quibas.
O povo que assistia o sermão, viu e começou a rir. Augusto Preto pegou um velho chapéu de couro e bateu no morcego, e, consequentemente, nos quibas de Mané Gagão, que ao despertar, deu um salto da peste, dizendo: “eita boba serena, arrancaro meus quibas”.
O povo todo ria, o padre viu a cena e começou também a rir, não se controlou, e perguntou o que foi Mané? “oi seu padre, foi tudo mode meus quiba, o senhô me perdoi, que nois tamo na casa de Deus, mas foi esse nêgo da cara de rapariga que quase quebra meus colodoro, foi uma dô da gota serena, seu pade”.
Enquanto isto o padre encerrou o sermão.

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