DAS EXPOSIÇÕES AGROPECUÁRIAS DE SANTANA DO IPANEMA NASCERA O ESCULTOR MARCEL

Contos

Maria do Socorro Ricardo Farias

Zezito, o pai de Marcel, era mais conhecido se comparado a José Cavalcanti Almeida – mesmo ambos sendo a mesma pessoa. Cronifico. Não se trata de poeta com heterônimos, nos passos de Fernando Pessoa, outro português.

Exposição Agropecuária, em Santana do Ipanema, tem história. Era o ano de 1971. Amigos fazendeiros, reunidos, sabiam ter chegado a época de melhorarem seus rebanhos. Santana poderia ser também capital do leite; Capital do Feijão era seu título publicado na revista O Cruzeiro. O gado leiteiro, que se ouviam comentários das revistas especializadas, era o holandês. Um dos fazendeiros, Zezito, liderara o grupo. Assumira o comércio. Iria comprar reprodutores bovinos P.O.s (puros de origem/puros de sangue), nas fazendas do Rio de Janeiro.

Zezito, o pai de Marcel, era mais conhecido se comparado a José Cavalcanti Almeida – mesmo ambos sendo a mesma pessoa. Cronifico. Não se trata de poeta com heterônimos, nos passos de Fernando Pessoa, outro português. Zezito dizia que o mundo muda rapidamente: São os sinais. Sei que atravessamos eras; esta é a Era Apocalipse de tussinames, ondas de 35 metros que varrem os mares. Há pouco tempo, tudo diferente. Só há 500 anos este País fora conquistado por aquela política expansionista européia. O cabo telefônico, do empresário Barão de Mauá, que ligou o Brasil à Europa, no século XIX, durante o governo de Dom Pedro II, a rede internacional (www) que, na derradeira década do século XX, apequenou o mundo, foram diferentes e iguais; duas pontas da tecnologia.

Há 50 anos, os meios de transportes eram tímidos. Tudo distante. Oriente: apenas um lugar muito longe; só se ouvia a seu respeito durante as homilias na igreja. O nascimento de Jesus, no Oriente, ao se falar, imaginava-se: o Oriente tão longe quanto o céu. Aquele mundo, no início do século passado, era bem pequeno.

Iniciava-se um desenvolvimento igual a todas as cidades do País. A maioria das famílias era ascendente de alguns daqueles colonizadores expansionistas. Aconteceu com milhares de brasileiros.

Houve uma mudança brusca no mundo naquele meio século atrás. Fábricas se espalharam. Um lerdo desenvolvimento. Viagens, do interior à capital, levavam dias mudando de transporte até se chegar ao destino. Naquela época, carro próprio só dos comerciantes que transportavam sua produção. Misael, fiscal geral da Prefeitura, proprietário de terras e gados, econômico, seu transporte continuava a ser o lombo de um cavalo. Estradas não existiam. Longas viagens para cobrar os impostos da Prefeitura na região nos dias de feira. As criações de Misael não tinham muito leite; serviam elas de consumo, às vezes, de venda aos compadres. Hoje o Brasil se transformou. O mundo transformou-se. Agora, almoça-se no Brasil e janta-se na Europa. Tudo está mudado até aos criadores de bovinos. Com direito a escolher a raça que melhore seu rebanho. Gado como uma mercadoria de luxo, um peso na balança comercial, com exposições, leilões, festas e escolhas dos puros de sangue, taças, prêmios, preços astronômicos por animais antes de tão pouco valor. Proprietário de gado passou a receber ajuda dos governos.

Em Santana do Ipanema não é diferente desde 1971. Proprietários do gado holandês tiveram a iniciativa de expor sua criação. Dali em diante, até as crianças, filhas de fazendeiros, passaram a participar do evento. Quando se aproximava o mês da Exposição Agropecuária, todos os criadores e seus filhos, organizavam-se as festas.

Marcel, mais tarde, aos dez anos de idade, na época, era o mais entusiasmado em preparar os bois de raça: cinco a seis animais cada proprietário. Muito criança, Marcel fazia questão de se responsabilizar com tratamento de seus animais no desfile da Exposição Agropecuária de Santana do Ipanema: uma das idéias de seu pai, Zezito, genro de uma das filhas do fazendeiro Misael. Marcel aprendia com as experiências dos vaqueiros chefiados por Pedomutuca.

Iniciava-se o desfile ao cair da tarde e se estendia ao sol-pôr. Centenas de animais escovados reluziam ao pôr-do-sol no sertão santanense. Raças diferentes. Músicas. Uma festa. Agências bancárias instalavam seus escritórios móveis e promoviam financiamentos aos fazendeiros; veterinários avaliavam o gado exposto, premiavam os melhores com taças. Marcel, filho de Zezito, em casa, pesado de prêmios.

Na escola, Marcel, às vezes, distraía-se esculpindo seu gado e cavalos de raça em bastões de giz. A professora lhe pedia mais atenção, quando o descobrira na atividade de escultor:

- Marcel, preste atenção à aula. Que está fazendo tão distraído? Deparou-se a professora Maike com esculturas de bois e cavalos quarto-de-milhas feitos no giz. Naquela hora, nascia um artista. Hoje, o trabalho do escultor Marcel, várias vezes premiado, com inúmeras exposições realizadas, participa da OAB Arte/SC, está na Alemanha e nos Estados Unidos. Uma de suas fãs é a bisneta do Dr. Otto Blumenau, fundador da cidade Blumenau, em Santa Catarina, Jutta-Nielsen Blumenau.

Conto Publicado em 13/09/06

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