HARDWARE E SOFTWARE HUMANO?

Pe. José Neto de França

Lendo uns comentários provocados por uma postagem no Instagram – a foto de um cérebro, com parte do crânio, os olhos, a coluna vertebral e inúmeros nervos – com uma legenda na própria foto: “Isso somos nós... o resto do corpo é um traje espacial orgânico usado por esta criatura para viver nessa rocha em particular que gira em torno de uma estrela”, e com outra legenda feita pelo autor da tal postagem: “O sistema nervoso é fundamental para a percepção do mundo que nos cerca e também para o funcionamento do corpo e da realização de atividades como locomoção, raciocínio e memória.”, prendeu-me a atenção um comentário de um internauta que disse: “Isso aí é o Hardware do veículo. A mente é o software. Nós não somos nada disso.”

Sou Sacerdote, graduando em Nutrição, escritor e curioso. Meu conhecimento sobre o corpo humano é parco em relação aos médicos ou estudantes de medicina, porém, tenho meu posicionamento diante das postagens a que referir-me.

Partindo do princípio de que tudo no universo, mesmo algo aparentemente desordenado, tende a harmonia, isso inclui o corpo humano. Nesse corpo, não se pode privilegiar nenhum órgão em especial. Cada parte/órgão, por menor que seja, tem sua importância no funcionamento dessa magna, fantástica máquina/engrenagem que é o corpo humano. Por exemplo, os nervos não funcionam sem o sangue que é produzido na medula óssea dos ossos chatos, vértebras, costelas, quadril, crânio e esterno, e que está em todo lugar do corpo, além dos órgãos que os equilibram, os que filtram, o que bombeia etc. além das bactérias que estão em toda parte, dentro e fora, em sincronia.

Assim, se tudo tem que funcionar de forma participativa e em harmonia, para que “exista uma consciência” – se o corpo não funcionar, libera a alma – não podemos dizer que somos só o sistema nervoso, e que o resto é só um tipo de roupa.

Logicamente que o sistema nervoso como também qualquer outro órgão do corpo físico faz parte do traje que usamos para viver nessa dimensão temporal. Somos seres eternos; somos a vida que habita o corpo! Um dia todos os órgãos deixarão de existir e, segundo a Teologia cristã católica você, eu, vamos todos para a próxima experiência (definitiva) da nossa existência, a qual temos pouquíssimas informações, ou o que sabemos só pode ser crível pela fé, dom de Deus.

Quando fomos fecundados pelos nossos pais, recebemos o corpo deles e a alma de Deus. Pode-se dizer sim, que esse corpo será a veste, a casa de nossa alma por toda vida temporal.

Na máquina que é nosso corpo – composto de aproximadamente 72% de água, 14% de carbono, 9% de hidrogênio, 5% de nitrogênio e 3,5 % distribuídos em pelo menos 15 elementos como cálcio, potássio, enxofre, sódio, iodo, zinco etc.; a mesma composição orgânica da terra! – animado pela nossa alma, está toda uma potencialidade que o colocará, enquanto no tempo, numa constante transformação (devir). Ele, por ser perecível como todo que há no cosmo, tem um prazo de validade. Daí requerer uma especial atenção da alma que o habita. Seu crescimento, seu ápice e seu declínio vai depender dessa atenção.

A alma, considerada a sede das emoções, trabalhando no campo da mente humana ao trazer sensações emotivas, prazer, alegria, tristeza etc. a partir de sua interação com o mundo – cosmo – e com Deus vai definindo seu grau de perfeição e marcando sua habitação – o corpo físico.

De sua interação com Deus, sua capacidade de ver, ouvir, sentir o mundo a sua volta, o homem – alma/corpo, será um grande diferencial ao contrário de quem conta somente com sua inteligência/sabedoria. Vale lembrar que, para o cristão católico, a sabedoria humana é limitada pelo corpo, já a Sabedoria divina é um dom de Deus, e pelo fato de ser dom divino, será mais bem sentida, “absorvida”, sentida e vivida pela alma.

Claro, se formos fazer uma analogia, embora simplória, entre o homem (corpo/alma) e um computador, diríamos que o corpo seria o hardware e a alma o software. Ambos têm que ser bem cuidados.

Ainda dentro dessa analogia, agora levando em consideração o tempo histórico, será que aqueles que virão depois de nós, daqui a alguns milhões de anos, passarão por uma espécie de “upload”, para se adaptar a tal realidade que irão viver/enfrentar? Como será a forma daquela geração?

Enigmas da vida!

Pe. José Neto de França

Comentários