Tempos atrás, numa manhã, enquanto conversava com um pai de família, ele me pediu para que eu reservasse um tempinho para atender o seu filho de dez anos (Dante – nome mudado de forma proposital) que, segundo ele, estava com um comportamento um pouco agressivo, alegando que seus pais gostavam mais do outro irmão (Marcos – Também, mudado propositalmente) que tinha doze anos, do que dele.
Imediatamente à conversa, já marquei dia e hora. Eu conhecia bem essa família. O casal só tinha esses dois filhos e os amava profundamente.
No dia marcado, a mãe desse quase pré-adolescente – isso porque no tempo presente a puberdade começa muito cedo – trouxe seu filho.
Na Igreja Matriz onde estávamos, coloquei duas cadeiras próximo ao altar, pedi que a mãe do garoto ficasse a uma certa distância, mas à vista dele, por duas razões: Ele podendo ver a mãe, em função da afinidade familiar, teria uma maior segurança. Ao mesmo tempo, por causa da distância entre ela e ele, poderia falar de forma privativa sem se constranger. Às vezes, a pessoa que está sendo atendida, independentemente da idade, quer dizer algo que interesse somente a ela mesma.
Depois de dar as boas-vindas, fiz algumas perguntas aleatórias, somente para fazê-lo se sentir mais à vontade.
Quando vi que era o momento oportuno, perguntei sobre o irmão. A forma como ele mudou os traços faciais e me respondeu, já percebi sinais do conflito entre ambos.
Segundo Dante, seu pai e sua mãe gostavam mais do seu irmão Marcos e, por isso, não dava atenção a ele, que era muitas vezes deixado de lado. Por isso mesmo ele, Dante, vivia, com frequência, brigando com Marcos, além de ficar chateado com os pais. Em outras palavras, Dante estava com ciúme do Marcos por causa da atenção que os pais davam a ele.
Eu sabia, tanto pelo convívio e conversas com a família, como também pela observação, que o Marcos tinha traços de um transtorno de déficit de atenção. Foi justamente a partir disso que procurei orientá-lo.
Fiz Dante perceber que, em algumas atividades, ele levava mais vantagem que seu irmão. Argumentei que, também, na maioria das vezes, no dia a dia entre eles, Dante compreendia melhor o que via, ouvi, sentia... E era exatamente isso que fazia com que seus pais tivessem, necessariamente, que dar uma atenção, não melhor, mas diferenciada a Marcos do que a Dante.
Fi-lo ver que o amor de seus pais para com os dois filhos era o mesmo, porém segundo o desenvolvimento de cada um, a atenção deveria ser diferenciada, inclusive, ele, Dante, deveria ajudar os seus pais nessa tarefa de ter um cuidado todo especial para com o seu irmão.
Achei interessante que ele mesmo chegou à conclusão de que Marcos precisava mais de ajuda do que ele. Pedi, então, que Dante demonstrasse o amor pelo seu irmão, colaborando no que fosse possível com seus pais. Isso faria com que a família vivesse mais unida e ele, Dante, em vez de se estressar, iria se sentir bem melhor.
Aquela tensão que Dante ficou quando citei, no início do atendimento, o nome de Marcos, tinha se dissipado totalmente.
Chamei, então sua mãe e conversei com os dois. Logo após, eles saíram.
Fiquei a pensar sobre nossa conversa.
De fato, o amor é único e abrange ao que ama e ao que é amado como um todo. Porém, a forma de lidar com cada pessoa é que muda. E essa mudança se dá a partir da personalidade de cada um. Uns exigem de mais atenção outros não.
Enigmas da vida...
EGO, ME IPSO!!!
[Pe. José Neto de França]
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