A EFEMERIDADE DA VIDA

Pe. José Neto de França

Desde o momento em que nos damos conta de que estamos no mundo, de que somos seres únicos, providos de liberdade, de capacidade de escolha, de tomada de decisões, de sentimentos dos mais diversos, etc., que começamos a intensificar nossa personalidade, nosso jeito de ser, nossos gostos, tendências, forma de pensar e associamos tudo isso ao que já trazemos conosco desde que fomos fecundados, através de nossa genética, como por exemplo, gênero (embora muitos discordem o que é um erro crasso), probabilidade maior ou menor de certas patologias (diabetes, hipertensão, certos tipos de câncer...), etç.

Nesse contexto, vamos construindo muitas amizades, segundo afinidades entre nós e aqueles(as) com quem vamos interagindo no dia a dia de nossa vida. Por exemplo. Sou Padre e além das minhas amizades dentro do catolicismo, tenho amigos(as) espíritas, evangélicos, umbandistas, ateus, indiferentes religiosos etc. Acredito que a amizade não tem denominação religiosa. Aliás, amo a todos sem distinção.

O amor pregado por Jesus Cristo ultrapassa o que quer que seja. Eu não amo as pessoas, simplesmente como amo a mim mesmo, mas as amo com Jesus nos amou. Afinal foi isso que Ele nos pediu: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13,34)

Ainda seguindo nosso mestre Jesus, amar alguém não significa concordar com tudo que esse alguém pense, fale ou faça. A vida humana tem que ser respeitada e amada.

Pois bem, desde a mais tenra idade, vamos construindo uma legião de amigos(as). Uns(as) mais distantes, outros(as) mais próximos(as), e um número mais restrito de íntimos(as).

Interessante é que devido as novidades consequentes do abrir-se da vida em suas primeiras fases (criança, adolescência, início da juventude), não pensamos muito em perdas (das amizades), apesar de que essas mesmas perdas já começaram também a fazer parte de nosso existir.

Por estarmos preocupados em viver intensamente o momento, as perdas, com raras exceções (familiares próximos ou outras), não têm muito impacto.

Acontece que o tempo, à revelia de nossa vontade, encarrega-se, [por vezes auxiliados pelo próprio humano (quando esse não se cuida ou são vítimas da convivência social), ou por questões naturais], de ir subtraindo do nosso convívio, cada um deles.

Nós só vamos no dar conta substancialmente dessas perdas, a partir de uma certa idade. Claro que o tempo desse “se dar” conta varia de pessoa para pessoa. Enquanto a idade avança, de forma proporcionalmente inversa, o número dos(as) grandes amigos(as) vão diminuindo...

Eu só comecei a sentir com mais intensidade essas perdas a partir de uma sucessão delas que começou no início na pandemia da covid-19 (2020) com a morte prematura de um parente amigo acadêmico de medicina que faleceu repentinamente no início de abril de 2020, até o óbito de minha mãe (a pessoa que eu mais amava) em setembro/2022 e de meu melhor amigo da atualidade, dezembro-2022.

Essa “penca” de perdas, fez-me olhar para meu passado de quase 65 anos e sentir a legião de amigos(as) que já não estão temporalmente comigo: Pai, mãe, irmãos, irmãs, avôs, avós, tios, tias, primos, primas, amigos, amigas que marcaram profundamente minha infância, adolescência, juventude, vida adulta... Interessante que ao recordar o nome de cada amigo(a), lembro-me também de muitos acontecimentos da época...Nada tenho a reclamar... Só sinto uma saudade que tempera minha alma.

Para que a saudade não machuque nossa alma, temos necessariamente que pensar positivamente, estar nos motivando a cada instante; jamais lamentar o que quer que seja; procurar nos adaptar ao momento que estamos vivendo, reconhecer nossas limitações da atualidade, procurar fazer o que seja possível; trabalhar a nossa autoconfiança, autocontrole, autoaceitação etc.

Independentemente da provisoriedade da vida, não nos esqueçamos: somos nós os promotores de nossa vida e da nossa morte.

Mesmo saudosos, olhemos para a frente! Interessa e muito a nós, sermos felizes no tempo que nos resta.

Enigmas da vida!

[Pe. José Neto de França]

Comentários