A CULTURA DO CANCELAMENTO: Limites da Liberdade de Expressão

Pe. José Neto de França

A cultura do cancelamento é um fenômeno que ganhou destaque nas últimas décadas, especialmente com o uso crescente das redes sociais, onde indivíduos e grupos se mobilizam para retirar apoio a figuras públicas, empresas ou indivíduos cujas opiniões ou ações são consideradas ofensivas, ou até mesmo apenas e tão somente por pensar diferente. Esse movimento toca na essência da liberdade de expressão, levantando questões sobre onde estão os limites dessa prática.

As redes sociais se tornaram plataformas para amplificar vozes, permitindo que questões de injustiça social sejam destacadas, como racismo, machismo e homofobia. Porém, essa rápida mobilização também pode resultar na ação de “cancelar” alguém de forma desproporcional, silenciando vozes divergentes e criando um ambiente de receio em expressar opiniões, o que pode empobrecer o debate público. Um exemplo é o caso de Kevin Hart, que perdeu a oportunidade de ser anfitrião do Oscar no ano de 2019, devido a tweets antigos considerados homofóbicos. Disse ele no antigo Twitter, hoje X: “I have made the choice to step down from hosting this year's Oscar's....this is because I do not want to be a distraction on a night that should be celebrated by so many amazing talented artists. I sincerely apologize to the LGBTQ community for my insensitive words from my past.” Tradução literal: “Eu tomei a decisão de renunciar à apresentação do Oscar deste ano... isso porque não quero ser uma distração em uma noite que deve ser celebrada por tantos artistas talentosos incríveis. Peço sinceras desculpas à comunidade LGBTQ pelas minhas palavras insensíveis do passado.”

A situação gerou discussões sobre arrependimento e a evolução pessoal, questionando se erros do passado devem definir para sempre a vida de um indivíduo.

Além disso, a cultura do cancelamento levanta preocupações sobre a fragilidade da liberdade de expressão, onde críticas podem ser confundidas com ataques pessoais. Essa confusão pode dividir a sociedade em “nós” contra “eles”, dificultando diálogos construtivos e alimentando a polarização. As interações sociais podem se tornar hostis, tornando difícil compreender as complexidades das questões debatidas.

Portanto, é essencial abordar a cultura do cancelamento com cuidado. Enquanto a responsabilização é crucial, é igualmente importante promover um ambiente que encoraje a aprendizagem e a empatia. A liberdade de expressão traz consigo a responsabilidade, e é fundamental criar um espaço onde o diálogo permita não apenas a crítica, mas também o crescimento pessoal. Em vez de cancelar vozes, a sociedade deve buscar a construção de um futuro mais inclusivo, onde todos possam se expressar e evoluir, favorecendo um entendimento mais profundo e transformador.

Enigmas da vida!

Pe. José Neto de França
(Sacerdote e Nutricionista Integrativo – CRN/AL nº 43951)

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