Titularia este artigo com a famosa frase “é proibido proibir”. Ninguém esquece Caetano Veloso vociferando-se contra essa rotina do período da ditadura militar no Brasil.Pois, hoje, o Planeta repete contra os fumantes.
Pode ser uma luta justa, mas peca pelo exagero, pois proibir atos individuais tornou-se uma mania mundial, em especial no Brasil. Quanto às ações contra os fumantes, o erro está em querer proibir o cidadão de fumar. O correto é proibi-lo de fazer mal aos outros. Mas a questão principal seria a diferença de tratamento entre fumante e beberrão. E ambos trazem problemas, mas os da bebida parecem ser mais amplos e com menores chances de defesa pelas vítimas. No entanto, a bebida recebe tratamento de muito glamour e alguns alertas tímidos e dissimulados.
Sempre vem o estímulo gigante e depois uma frase tímida, quase inaudível, a recomendar se quiser beber não dirija. Como se o mal estivesse só em dirigir. Quem fuma, prejudica com o cheiro da fumaça; quem bebe, com o da bebida. Quem fuma pode prejudicar o outro com o ardor nos olhos; quem bebe, com as cusparadas indesejadas.
O fumante suja a cidade com suas pontas de cigarro, facilmente evitada se utilizasse cinzeiro portátil ou jogasse no lugar devido; quem bebe, fala alto, vomita em qualquer lugar sendo uma reação orgânica sem controle.
O fumante fica consciente; já o embriagado perde quase sempre a consciência. Em grande parte, fumar só prejudica o próprio indivíduo. Ninguém pode evitar o suicídio desejado de ninguém. Mas, quem não quer receber a fumaça afasta-se, ao menos tem essa chance. Já do bêbado é difícil se defender. Ele vem pra cima de qualquer um, ofende, provoca, agride. Em casa, geralmente aterroriza os familiares. E ambos matam milhões ao ano. O cigarro, pelas doenças que provoca. E os bêbados, pelos acidentes que causam. São centenas de casos de assassinatos coletivos em função de acidentes provocados pela bebedeira. Todos docilmente tratados como crime culposo, sem nenhum assassino na cadeia.
Ninguém consegue se defender de uma carreta dirigida por um bêbado. A violência sempre o rodeia. É só levantar as estatísticas de assassinatos decorrentes de embriaguez. Bebida causa um mal muito mais quantitativo e imediato além de não sofrer crítica veemente nem repreensão rigorosa pelas autoridades. E ainda é glamourizada nas novelas, nos filmes, nos comerciais, enquanto só cresce o cerco ao cigarro.
A onda proibitiva de atos que dizem respeito só ao indivíduo, as cantinas das escolas de São Paulonão podem vender salgadinhos, além de outras guloseimas. Alimentar-se corretamente tem que vir da educação de cada um, não pela imposição estatal. Às autoridades caberia sempre a orientação informativa, com vista a educar. Nada mais. E é preciso dar tratamento à bebida semelhante ao dado ao cigarro. Tal como as imagens fortes nos maços de cigarro, nas garrafas de bebida deveriam vir estampadas com imagens de pessoas amassadas ou decapitadas nos acidentes automobilísticos.
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