Água é vida, porque sem água a vida fenece, a chuva caída no chão, tornou-se motivo de regozijo e alegria para o sertanejo. Tenho usado estes espaços, via de regra, para mostrar sem arrodeios nem metáforas, o sofrimento que a seca vinha provocando aos sertanejos, que estavam levando uma vida quase inusitada na história do povo nordestino. A caatinga estava desolado, as árvores despidas, os galhos secos e hirtos, parecendo mãos postada da natureza clamando a chuva aos céus, porque somente o sol abrasador era uma constante nos dias quentes do sertão, provocando um calor insuportável. O sertanejo viu chegar o dia de São José, 19 de março, e sequer uma nuvem se formou, sobretudo naquele dia, quando se planta milho para ser assado na fogueira de São João, e tudo passou às brancas nuvens, porém a fé do povo sertanejo não se estiola facilmente, continuaram rezando pedindo a chuva benfazeja para os campos, outrora tão desolados. Nos fins das tardes, ouvia-se o canto lúgubre e triste da Cauã na serra do Pedrão e o piu do notívago Socó na lendária cacimba do Gameleiro. As últimas reservas de palma forrageira, com suas folhas ou raquetes, plantada em forma adensada, amarelada e caída uma sobre as outras, sem mais nenhum teor de vitamina que pudesse matar a fome do gado. A água sumiu das barragens, causando transtornos aos criadores, que estavam vendo seu rebanho sendo vitima da seca. Sentado no copiar da casa, tal qual Fabiano de Vidas Secas, sem plano, pobre coitado fazendo risco no chão, como canta o Gonzagão, tudo isto e muito mais são as conseqüências de uma seca sem precedente. Porém na segunda feira 22, o céu se encarrasmuou, fechou-se com nuvens grossas e carregadas, e sem alarde, sem nem sequer um relâmpago ou mesmo um trovão tão de praxe, a chuva caiu e bateu forte, que mesmo fina atenuou o calor forte, caindo a temperatura de 38 a 40 graus para 25, propiciando noites amenas e devolvendo ao sertanejo a noite boa de dormir após a labuta diária. O sertanejo adormeceu e acordou com a chuva que se postergou por toda semana trazendo a alegria aos trabalhadores, que já estão de mão no arado revolvendo a terra molhada e jogando a semente no chão, porque a chuva é a redenção copiosa do sertão; enquanto o pasto já desponta nos cercados e a palma levantou a cabeça e já está cheia, e o leite nas vacas já esta aumentando gerando riqueza, e as árvores já estão se vestindo de uma roupa nova, trazendo as aves que no seu gorjeio se preparam para o acasalamento, tudo é prenuncio de um bom inverno, e a chuva continua. Mas a chuva é fina, não afugenta a seca tenebrosa, que ainda teima em permanecer, porque a chuva não da ainda para juntar água nas grandes barragens, e enquanto isto o carro pipa continua seu percurso, porque ainda é cedo para seu recolhimento, sendo necessário observar o comportamento das chuvas que vem caindo no sertão, haja vista só a natureza ter a resposta, e conseqüentemente, a meteorologia. Dentro em breve o sertão outrora adusto, poderá esta carregando de flores, porque a natureza vilipendiada pelo homem, vinga-se, dando-lhe flores.
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