NÃO SABIA QUE ERA CAPAZ

Luciene Amaral da Silva

Muitas de nossas gerações foram construídas sobre estigmas pautados em inverdades e sem questionamentos que ao longo dos tempos foram se perpetuando e repassando de geração em geração.

Uma delas foi e é a crença de que não éramos capazes de fazer, ser, desenvolver, sonhar, criar, construir, inventar, inovar, melhorar, ganhar. Ser vencedor. E cada vez mais essa é uma prática incutida na cultura alagoana.

Prática empregada pelos colonizadores. Fazer com que o ‘menor’ se sinta cada vez menor para que assim possa ser dominado. Um povo fácil de dominar é aquele que não acredita em seu potencial. Se não sou capaz devo obedecer a quem é e deixar as coisas para quem sabe, já que não sou capaz.

Esse discurso fica mais claro nas salas de aula da maioria das escolas públicas. Um ensino defasado, com ausência de crença e esperança, dificilmente gerará a crença e a esperança. Apenas aqueles que fogem as regras do sistema que superam essa massificação dominante do empobrecimento cultural e de autoestima dos alunos.

Acreditar que não é capaz se tornou uma das práticas mais fácil de ensinar, já que a receita é: conteúdo, conteúdo, quadro, giz, reproduzir, sem saber para que. O segredo para a ignorância é fazer algo sem saber para que se está fazendo e fazer isso é bem mais fácil. A superação da ignorância, do fazer de conta é muito mais trabalhoso e demanda esforço, dedicação, pesquisa, sendo assim, é mais fácil culpar alguém ou algo pelo que não é feito, que fazer sua parte para melhorar.

O potencial de uma pessoa é algo que precisa de estimulo para ser desenvolvido. Estimulo da família, da escola e da sociedade. Se a pessoa não é estimulada, incentivada, o caminho para o desenvolvimento do potencial ficará bem mais difícil e complicado.

Outra prática massificante do estado de Alagoas é pouco valorizar as experiências exitosas que advém das escolas públicas como um todo. Não há divulgação dos trabalhos que atingiram êxito, que descobriram os caminhos. Não há divulgação dos alunos que participam e ganham prêmios e honrarias em nosso estado, em especial em nosso sertão.

Ganhadores de Olimpíadas de Matemática, de Língua Portuguesa, de concurso de redação, de cartazes, bem como de outros eventos que acontecem a nível nacional, como também as grandes aprovações em vestibulares de universidades públicas. Não são divulgados, nem reconhecidos.

No entanto, se atrelam a divulgar sempre o alto índice de analfabetismo, de violência, de pobreza, de exclusão digital, de seca, de fome. Por que tanta ênfase no que está errado e tão pouco mérito para o que deu certo?

Se fizermos um levantamento sobre o número de alunos, professores e escolas premiados que já tiveram encontro com os presidentes da Republica para serem homenageados, nos assustaremos com um índice tão alto que não é divulgado. É como se o que apenas interessasse fossem os índices negativos já que são estes os maiores responsáveis pela vinda de recursos.

E cria-se a cultura que apenas o sul e o sudeste são capazes. “Não vou tentar, já sei que não irei conseguir.” E cada dia se ouve essa fala nos discursos dos alunos da rede pública. Somos capazes, sabemos disso, agora só precisamos acreditar que é verdade.

Luciene Amaral da Silva
Pedagoga

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