Como fazer projetos escolares sem contribuir com a poluição e o desperdício?

Luciene Amaral da Silva

O ano letivo das escolas públicas ainda não terminou em alguns lugares, mas grande parte das escolas particulares já desfruta das férias, cabe uma reflexão se o calendário escolar é por classe social.

Mas, a questão a que remeto no momento, é fruto das observações realizadas nas escolas públicas e particulares quando a contradição existente no seu ato de educar.

Existe uma escola em um referido lugar que todas as praças próximas da escola existem bancos a árvores para acomodação, principalmente de estudantes, apenas na praça que fica defronte da escola os bancos foram quebrados e as árvores arrancadas. Este espaço educa, ou deseduca, onde está a contradição?

No entanto, o que mais tem tomado parte do meu tempo de reflexão sobre o que a escola ensina é a questão dos trabalhos escolares, ou projetos, em que ela, no inicio de suas atividades precisa planejar quais projetos desenvolverá durante o ano.

A questão não é fazer o projeto, é como esses projetos estão sendo desenvolvidos e a lição que mais está ficando não é a temática geral do projeto e sim as ações propostas pela escola e executadas pelos alunos.

Vamos refletir, a escola tanto recebe verbas do governo para manutenção de suas ações, no caso da escola pública, quanto "sugere" aos pais uma lista enorme de material ou até taxas, no caso de escolas particulares, para custear a manutenção pedagógica ou geral das escolas durante o ano.

A contradição se firma no posicionamento da escola diante da execução dos projetos, por exemplo, quando a escola vai trabalhar sobre o meio ambiente, em algumas das diversas ações, pede-se uma maquete de isopor sobre um rio poluído, o isopor é um dos materiais com tempo indeterminado de decomposição, o aço passa cem anos para se decompor, mas o isopor o supera, o papelão, que seria uma alternativa, dura seis meses e não custaria ao bolso dos pais nem do governo e esse material está na lista de compras da maioria das escolas de hoje.

A escola ensina que deve cuidar do meio ambiente e ela promove o desperdício e a poluição. Muitas vezes pede que um aluno traga Para a escola um determinado trabalho numa cartolina ou outro tipo de papel, se o trabalho ficar na escola, grande parte vai para o lixo, se for devolvido ao aluno, não chega nem na faxina de ano novo.

A escola pede que o aluno faça uma pesquisa na internet sobre determinado tema, que se não for feito um grande trabalho de conscientização da turma, acaba sendo um incentivo ao plágio, visto que é muito difícil para grande parte dos professores, com acúmulo de carga horária de trabalho, ler e corrigir se é plagiado ou não cem, duzentos ou mais trabalhos. Professor, cuidado para ao passar um trabalho, o trabalho não ser apenas seu, pois ou você corrige tudo, não sei em que tempo, ou você apenas dará uma nota.

Os projetos sobre datas comemorativas são os que mais gastam materiais, depois do projeto do meio ambiente, se produz coisas e não se aprende o essencial que deveria ser não desperdiçar.

Certa vez uma escola estava construindo um projeto sobre meio ambiente e a problemática era conscientizar os alunos sobre os cuidados com a natureza, a primeira contradição, pois parece que só existe natureza fora da escola, e eu a questionava sobre que problema iria partir, dizia ela, do global para o Brasil, assim, os alunos iriam cuidar da natureza perto da sua casa.

Continuei a indagar se dentro da escola ela não havia observado algum comportamento dos alunos que agredia a natureza e ela negativamente respondeu. O desperdício da água do filtro quando eles vão beber água é mais forte porque parte de uma cultura que já trazem de casa e se espalhará por todos os espaços aonde chegarem. Será que esse não pode ser o ponto de partida do projeto?

Outra questão complicada na execução dos projetos e das ações pedagógicas da escola é a utilização do E.V.A. (Etil Vinil Acetato) o emborrachado como o conhecemos, é derivado de petróleo, se transformado em pó, a uma temperatura de mais de 150C, não é absorvido pela terra, e sua queima libera gás carbônico na atmosfera, é utilizado pelas escolas como, dentre tantas ações, confecção de lembrancinhas comemorativas, que são enviadas para os pais, que na sua grande maioria, também não chegam à faxina de ano novo.

A escola precisa nesse planejamento para o inicio do ano letivo de 2016 repensar sobre os objetivos da ação pedagógica dentro do espaço escolar. Repensar sobre em que materiais investirem os recursos que chegam à escola, para não contribuir com o desperdício e poluição.

E planejar também nas suas ações como desenvolverá projetos que promovam uma educação da consciência e não do desperdício. Existem várias alternativas a esses tipos de projetos que a escola precisa buscar, e essa busca depende da sua concepção de aprendizagem, que muitas vezes fica presa apenas ao projeto pedagógico da escola e não passa a ser ação.

Os trabalhos apresentados através da interpretação do aluno sobre determinado assunto, evita o plágio na internet, pois ele vai pesquisar em diversos meios para conhecer e não para copiar apenas, o resumo escrito na sala de aula sobre o que entendeu de acordo com explanação da turma ou do(a) professor(a) também é uma alternativa pois garante o estímulo da construção do conhecimento, olimpíadas, soletrando, dá oportunidade da ampliação do vocabulário, mesmo sendo uma prática abominada por tantos teóricos, e tantas outras estratégias que devem ser pesquisadas de acordo com a concepção de aprendizagem a que a escola se propõe.

Acho que já é um começo.


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