UMA BRIGA COM UM JUMENTO
José de Melo Carvalho
Trabalhei e morei em algumas cidades de Alagoas e também de Pernambuco. Tive a oportunidade de trabalhar em três cidades ribeirinhas do Velho São Francisco: Petrolândia e Cabrobó, em Pernambuco, e Pão de Açúcar, em Alagoas. Em todas elas, fiz amizades que as conservo até hoje. Fui padrinho de filhos de amigos em quase todas elas. Outro dia, conversando com minha esposa Magna, chegamos à conta de mais de quarenta afilhados. Isso me deixa maravilhado. Um telefonema, uma visita, um passeio, um casamento, uma festa, um baile, um encontro. Nunca deixei de me lembrar deles nem retornar ao seio desses amigos que construí ao longo dos anos. Vale lembrar que eles também me visitam de tempos em tempos. Não perdi os laços que nos unem e deles me orgulho em preservá-los.
Como gerente do Banco do Brasil, como maçom, como sócio do Lyons Clube e como amigo, tudo contribuiu para ampliar o leque de amizades, graças a Deus.
Quase todas as cidades tinham o seu clube de festas e a AABB, com piscinas, quadra de futebol de salão, churrasqueiras, bailes, etc. Nelas o final de semana era sempre uma reunião alegre e bastante concorrida. Divertia-me com minha cadela perdigueira, chamada Daia, na caça a nambus, aos sábados. Possuía também um barco para pescaria e passeio aos domingos. O trabalho no banco era árduo, mas o sossego das sextas à noite, aos sábados, domingos e feriados fazia-me recuperar totalmente dos afazeres da semana.
Eram, por exemplo, os jogos de damas, gamão, cartas, dominó e tênis de mesa outro importante divertimento. Durante a semana, à noite, jogava em casa de um cliente, em casa de outro, e o tempo passava rapidamente sem que a gente percebesse.
Cada cidade com sua cultura, com seu costume, com seus hábitos e valores. Ouvia todo tipo de historias. Uma informação, uma brincadeira, uma mentira, uma gozação. Era sempre assim. Quando deixava uma cidade e seguia para outra, naquela deixava também como conhecidos boa parte dos seus habitantes, entre os quais senhores e senhoras honestos e de respeito, os que pagavam em dia suas obrigações, os que não se preocupavam com o vencimento de dívidas, os caloteiros e outros mais.
Numa dessas cidades, um cliente muito amigo e brincalhão me contou a seguinte história, que depois fui procurar saber se era verdadeira ou não, e todos dali, mentirosos ou não, foram unânimes em confirmá-la como fato realmente acontecido.
Pois bem. Um cidadão, cujo nome não me foi revelado, tinha um terreno na beira do rio onde criava animais: vacas, carneiros, bodes, jumentos e cavalos, além de galinhas, patos e outros bichos. Tinha a fama de ignorante.
Certa vez, ele foi colocar cabresto num jumento que estava pastando bem próximo ao rio. Ao segurar o pescoço do animal para colocar o freio, o jumento balançou a cabeça e dificultou o trabalho do seu dono. Naquele momento, irritado, o dito cidadão desfechou um violento soco no bucho do jumento, que revidou com uma patada, levando ao chão seu agressor. Levantando-se de repente, o sujeito aplicou uma dentada no pescoço do animal. O jumento não contou conversa: deu-lhe uma mordida nas costas. Daí foi murro pra lá e coice pra cá. A peleja do homem com o animal era vista de longe, porque a poeira cobria toda a área da desesperada luta. Ainda bem que uma pessoa milagrosamente apareceu a tempo para intervir e apartar a inusitada briga.
Como terminou a desavença: amarrado o jumento, disse seu dono: “Solte o jumento que eu vou dar uma surra nele.” Furioso, o jumento não “abria” um palmo para nova briga e estava quase partindo para pisar o dono. Dizem que o caso foi parar na delegacia de polícia da cidade. Parece-me que lá o jumento teria ficado preso.
Maceió, janeiro 2015.
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