Há de se considerar que em mesa de bar, três assuntos hão de ser versados, indubitavelmente: Mulher, Futebol e Religião. Falar de mulher é essencial. Afinal, verdade seja dita, não conseguiríamos sobreviver sem elas. Sobre este item, há três categorias de mulheres a se considerar: A sem dono; A alheia; e A nossa! As sem dono, ótimo o papo vai render bastante; As alheias, fala-se, desde que o dono não esteja por perto; E a nossa, é como dizia um amigo professor,"É como soldado de polícia: Incomoda pela presença, mas socorre-nos nas necessidades". Futebol, o outro tema, têm os fanáticos,"doentes" que provocam discussões,perdem a compostura.Aquecem os ânimos. E religiosidade. O cachaceiro chega ao cúmulo de buscar respaldo nas Sagradas Escrituras para justificar seu vício, e diz:- "O primeiro milagre de Jesus foi transformar água em vinho!Então não deve ser tão grave pecado, beber!". Vem outro e ratifica em tom solene: "E o próprio Jesus disse: O mal não é o que entra pela boca do homem, mas muitas vezes, o que sai do seu coração!"
Eluciano é o personagem de nosso episódio. Dispensa apresentações. Conhecido e amigo de todos nós. Trabalha na Escola Estadual Mileno Ferreira da Silva à muitos anos.Diz ele, que concorda em parte com o cronista, no tocante ao tema aqui ventilado. Só trocaria futebol por música pois é cantor e toca cavaquinho.
Quanto a religiosidade ele vive a sua. Católico convicto. Com ressalvas, pois vive intercalando períodos de intenso fervor e devoção e outros de paganismo e desilusão.
E lá estava Eluciano, num daqueles períodos de sobriedade. Foi à igreja por toda a semana. Ensaiou os cânticos pra missa dominical. Parecia tudo bem. Só não apareceu na sexta-feira.
No sábado pela manhã, dia de feira. Entra Eluciano na igreja. Podre de bêbado, tocando ao cavaquinho música de Ataulfo Alves, Tempos de Criança:
"Eu daria tudo que tivesse/Pra voltar aos tempos de criança/ Há meu Deus porque é que a gente cresce/ Não me saiu nunca da lembrança/ Aos domingos missa na matriz/Da cidadezinha onde eu nasci/Há meu Deus eu era tão feliz/No meu pequenino Miraí/Eu igual a toda meninada/Quantas travessuras eu fazia/jogos de botões pela calçada/ Eu era feliz e não sabia...
QUE SAUDADE DA PROFESSORINHA QUE ME ENSINOU O BÊ-A-BÁ"
O padre lívido e encolerizado, vem ao seu encontro, interrope o rompante musical e debulha meia dúzia de impropérios:
-Saia já dessa igreja! Seu bêbado...Imoral!Desqualificado!
-Padre...
-Cale-se!Retire-se!
Com a ajuda de populares, nosso amigo foi conduzido à rua. E dali, ele próprio conduziu-se, como pode, ao primeiro boteco que lhe apareceu pela frente. E foi curtir sua cachaça.
09/12/2009 fABIO cAMPOS
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