Castigo é punição, é pena que se inflige a alguém que comete algum deslize. Pode ser castigo físico ou moral, ou simplesmente uma repreensão. No mundo do Direito, o castigo imoderado, caracterizado pela sua aplicação de modo cruel e incontido, poderá até cominar aos infratores a pena de perda do pátrio poder. No âmbito estritamente familiar, o castigo cinge-se a uma limitação de liberdade, a uma proibição qualquer, imposta pelos pais aos filhos malcomportados em casa, na escola.
Dias atrás, enquanto me barbeava pela manhã, escutava, na emissora de rádio que costumo sintonizar diariamente, a contundente e fundada crítica que um famoso jornalista de São Paulo fazia ao noticiário radiofônico A Voz do Brasil.
Retransmitido por todas as rádios do País desde 22 de julho de 1935, o noticiário do Poder Executivo tornou-se obrigatório desde 1938, no governo de Getúlio Vargas, e se chamava então Hora do Brasil. A partir de 1962, o programa passou a incluir notícias do Congresso Nacional e, logo depois, também do Poder Judiciário. Em 1971, o presidente Médici determinou a mudança do nome do noticiário para A Voz do Brasil, que continua até hoje. Vai ao ar diariamente por determinação do Código Brasileiro de Telecomunicações e é iniciado logo após os acordes de O Guarani, de Carlos Gomes.
O jornalista alegou que A Voz do Brasil é ranço da ditadura Vargas e que ela foi inspirada no modelo alemão do todo poderoso Josef Goebbels, ministro que difundia as ideias de Hitler. O nobre jornalista, cujo nome não foi anotado, defendeu a extinção pura e simples do noticiário radiofônico oficial, já considerado, ao longo do tempo, reconhecidamente obsoleto e desnecessário. Apesar disso, os vários governos democráticos que vieram depois mantiveram o noticiário no ar.
O Brasil inteiro está interligado por sinais de rádio e televisão, até pela Internet. Nos mais longínquos grotões há antenas parabólicas instaladas até em modestos casebres. A qualquer momento o governo usa a rede nacional de comunicação sem necessitar dos sinais de A Voz do Brasil. O Congresso Nacional e o Judiciário dispõem de programas próprios de televisão para transmissão, ao vivo, de suas sessões. Na verdade, é uma chatice ouvir-se A Voz do Brasil, cujo índice de audiência deve ser baixíssimo, inexpressivo, mas, certamente, de custos consideráveis.
Voltando ao assunto castigo, tratado no início desta conversa, diria que meu sogro, João de Aquino Rocha, já falecido, exerceu a atividade comercial em Santana do Ipanema por mais de 60 anos, de 1919 a 1979. Apesar de pouca instrução, ele soube ser pioneiro em coisas modernas para o seu tempo. Levou para a cidade, por exemplo, geladeira a querosene, rádio à bateria, telefone, motocicleta e automóvel.
Não sei, afinal, da eficácia que produzia seu método de impor castigo aos filhos por algum malfeito ou traquinagem. O certo é que o filho não recebia nenhum castigo físico, mas era obrigado a permanecer sentado ao pé do rádio, durante uma hora, a escutar A Voz do Brasil, ainda mais com a tarefa de repassar ao pai, logo depois, o resumo das principais notícias veiculadas no noticiário oficial da noite.
Maceió, dezembro de 2009.
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