MESA DE BAR - PARTE II (DO-RE-MÍ e TARDE FRIA)

Fábio Campos

Pra quem aprecia um saboroso guisado de bode com cuscuz, regado a uma boa cachaça. Existe aqui em Santana, um lugar especial: O Bar Comercial, do nosso amigo Mário Pacífico. São mais de 40 anos de tradição, servindo este prato tipicamente sertanejo. E fica bem ali, no comércio. É o ponto de referência dos cachaceiros santanenses de ontem e de hoje.
Quando se vai a um bar pra beber, há todo um ritual para a degustação de uma dose de cana. Há quem prefira “limpa”, outros “queimada”. Mas todo consumidor de cachaça que se preze, tem um pantim: Alguns, antes de tomar a primeira, se benze. Têm os que gostam de recitar uma glosa antes de engolir:
-Abre-te boca
Escancha-te goela
Aguenta fígado
Que lá vai ela!
Daí entorna...Aí vem outro e declama:
-Amor de moça não dura
Bêbo de ponte não cai
Ponta de corno não fura
E cachaça pura não vai...
E tem aqueles, que antes de tomar, derrama um pouquinho, alegando que “é a do santo”. O tira-gosto e um acessório muito importante na hora de beber. Ele pode promover o início de uma amizade. Se alguém aparece com um umbu ou um caju, fora da época dessas frutas. Com certeza, será alvo da atenção dos demais. E daí, poderão dois ou mais, tornarem-se amigos. O tira-gosto pode ainda, ser um indicativo da situação financeira de quem bebe, pois se o cara, estiver tomando “uma”, com uma bala doce de tira-gosto. Tenha certeza, esse está mal de grana.
Tempos passados, entro no bar de Mário, o que vejo: Valdemar Dó-Ré-Mí e Tarde Fria. Ambos, na iminência de transferir todo o conteúdo de uma garrafa de Pitú, pra dentro de seus buchos. Nesse estado de situação, de alto teor alcoólico, Dó-Ré-Mí incorpora o exímio músico que um dia fora, e passa a recitar as notas musicais. Tarde Fria, trajando seu surrado e inconfundível terno, encarna Vicente Celestino. E explode a plenos pulmões:
-Acooorda Patativa e Vem Cantaaarrr...
Valdemar acompanha-lhe, afinando de boca, um instrumento musical imaginário:
- Dóó-rééé-mí- fá-só-lá-sííí..
-CRREEEEMMM!!!!
O assunto envereda pelas aventuras amorosas dos dois Dom Juans. Tarde Fria faz uma declaração ao colega. Diz que está perdidamente apaixonado. Trata-se de uma moça, empregada doméstica. E é namoro firme.
Dó-Ré-Mí, pra desmoralizar o colega declara, em alta voz:
-Ah, Tarde Fria! Eu conheço essa mulher! Ela já é “furada”!
-E daí! Eu quero é pra namorar, não é pra carregar água!

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