RELEMBRANÇA, REMINISCÊNCIA , SAUDADE

Djalma Carvalho

Misturemos num caldeirão especial e sentimental as palavras lembrança, relembrança, recordação, memória e reminiscência. Positivamente teríamos dessa mistura a doce e suave palavra chamada saudade.
A propósito, e segundo o escritor colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014), seria “alvoroçar saudades adormecidas”.
A jornalista e escritora paulista Michele Trevisan, definindo saudade, completaria: “Saudade tem cheiro. Desconfio que também tenha braços, porque aperta.”
Quem gosta de músicas românticas, por exemplo, sabe muito bem que suas trilhas sonoras despertam lembranças ternas e sentidas recordações de passado distante, de pessoas e coisas, com o recorrente desejo nostálgico de tornar a vê-las ou possuí-las.
O escritor Bartolomeu Marinho, morador no Recife, em entrevista ao jornal A Tribuna (Belo Jardim, edição de dezembro de 2019, página A-2), disse: “Gosto de sentir saudade. Muita saudade de Belo Jardim, minha querida terra natal.” Amigos perguntaram-lhe: “Se você gosta tanto de Belo Jardim, por que não volta a morar lá?” Resposta do escritor: “Se eu voltar a morar lá, dela não mais sentirei saudade.”
Referindo-me a Santana do Ipanema, se um dia alguém assim me perguntar, manifestar-me-ei, orgulhosamente, da mesma forma.
Tratando do tema saudade, há poucos dias voltei a folhear o livro Jubileu de Ouro do Ginásio Santana, editado no ano de 2000 pela Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC, unidade de Santana do Ipanema.
Releio os passos da história da fundação do querido educandário, a partir da preliminar reunião de 20 de julho de 1949, realizada no salão nobre da prefeitura da cidade, na qual autoridades, intelectuais e lideranças de Santana do Ipanema receberam o padre Teófanes Augusto de Barros Araújo, então destacado educador alagoano, para tratar da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos, nome anterior à atual Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC, fundadora do Ginásio Santana, atual Colégio Cenecista Santana.
Daí em diante, em 11 de fevereiro de 1950, foi criada a Sociedade Ginásio Santana, mantenedora do educandário, cuja aula inaugural ocorreu em 15 de março de 1950. Na mesma reunião foi aclamado o nome de João da Silva Yoyô Filho para o cargo de Diretor Administrativo do Ginásio Santana.
Escolhido naquela oportunidade, o prédio do Grupo Escolar Padre Francisco Correia recebeu os alunos da primeira turma do Ginásio Santana, dos quais apenas nove concluíram a 4ª série. Foto e nome desses concluintes constam da página 25 do livro comemorativo do jubileu.
Fundado o Ginásio Santana – assinala, historicamente, o livro Jubileu de Ouro, à página 3: “As luzes do saber foram transmitidas pelos mais ilustres filhos da terra sob o brilho dos candeeiros.”
A luz que mais brilhou na história da fundação do Ginásio Santana pertenceu, com toda justiça, ao sempre lembrado Felipe Tiago Gomes (1921-1996), sonhador paraibano nascido no interior do município de Picuí e fundador em 1943, no Recife, da Campanha do Ginasiano Pobre, embrião da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade - CNEC.
Sou eternamente grato ao Ginásio Santana que muito contribuiu para minha formação intelectual, cultural, minha carreira profissional e para minha tranquila e saudável aposentadoria.
No livro Jubileu de Ouro há meu nome citado em três páginas, como aluno, como professor e como membro do Conselho Comunitário e Conselho Deliberativo e Fiscal do educandário. Como conselheiros, meus irmãos Gileno e Jarbas e meus tios José e Manoel Constantino também ali foram citados.
O curso médio de contabilista, concluído na Escola Técnica de Comércio Santo Tomaz de Aquino, então pertencente à Sociedade Ginásio Santana, deu-me, afinal, a oportunidade de graduar-me no curso de Direito, em 1980. Beleza!
Na verdade, sinto saudade do meu tempo de ginasiano. Tempo de muito trabalho, de luta por um lugar ao sol, de sonhos e aspirações.
Maceió, novembro de 2022.

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