Finalmente, disse para mim mesmo “pronto, consegui!”, batendo com força os punhos em minha mesa de trabalho. Foi o gesto de alívio e de satisfação que me ocorreu, depois de concluída a leitura do segundo volume de Guerra e Paz (Editora Cosac Naify, 2.490 páginas, São Paulo, 2013), de Leon Tolstói (1828-1910), clássico da literatura russa.
Custaram-me meses empenhado que estive nessa cansativa, mas fascinante tarefa, dando-lhe prioridade em meio a afazeres diários, dedicados, também, à leitura de outros autores, enquanto rabiscava minhas crônicas. Desejo por mim de há muito alimentado com o propósito, modéstia à parte, de enriquecer ou mesmo completar minha cultura literária.
Encontrei à página 2083, no diálogo entre Pierre e Platon Karatáiev a seguinte sentença – “Prometer é irmão de sangue de fazer” – dita pelo segundo personagem do romance, prisioneiros do exército francês, enquanto Moscou era devastada e incendiada pelas tropas de Napoleão Bonaparte, em 1812.
Pierre, por exemplo, também personagem do livro como da aristocracia russa, poliglota, fora preso ao salvar uma criança do incêndio num edifício no centro de Moscou, confundido como saqueador e incendiário. Platon, embora sem muita instrução e de muitos anos cumprindo pena, tinha o hábito de construir frases à maneira de máximas, filosofando a seu modo. Os dois foram trancafiados num barracão improvisado e utilizado como prisão, junto de outros companheiros de infortúnio.
Pois bem, ao embalo da máxima citada, cumpri a promessa da leitura de Leon Tolstói – escritor, romancista, professor, historiador, filósofo – como fora sugerido por Graciliano Ramos a amigos em Palmeira dos Índios.
Nascido em setembro de 1828, em Iásnaia Poliana, na Rússia, propriedade rural da família, Liev Nikoláievitch Tolstói, embora de origem aristocrática, teve infância sofrida. Antes de completar dois anos de idade, perdeu a mãe. Mendigos nas ruas de Moscou sem os cuidados e atenção de quem de direito influenciaram negativamente sua visão infantil da ordem social vigente. Numa viagem de trabalho, seu pai foi roubado e assassinado, crime atribuído aos servos que o acompanhavam.
Estudou línguas e leis na universidade em 1844, sem concluir seus estudos. Residindo em Moscou, de posse de sua herança familiar, “iniciou um longo período de dissipação moral, entre mulheres, vida boêmia e dívidas de jogo”, segundo dados biográficos do autor, com inclinação para desfazer-se dos seus bens materiais.
Em 1852 ingressou no exército, “fascinado com as experiências militares de um irmão”. A partir dessa data, marcou sua estreia na literatura, escrevendo o livro Infância, sua autobiografia. (Graciliano Ramos, seu admirador, também escreveu o livro Infância, autobiográfico, publicado em 1945.)
Entre 1863 e 1869 escreveu Guerra e Paz, sua obra-prima que consagraria Tolstói como genial escritor. Entre 1873 e 1879 escreveu Anna Kariênina, A Morte de Ivan Ilitch, Sonata a Kreutzer, Padre Sérgio e Ressurreição e o romance Khadji-Murát.
Converteu-se ao cristianismo, tendo radicalizado seus sentimentos morais e religiosos. Tornou-se hostil à Igreja Ortodoxa russa.
Casado desde 1862 e com treze filhos, o escritor tinha conflito conjugal extremo com a esposa Sônia. Aos 82 anos de idade, fugiu de casa. A saúde debilitada obrigou-o a saltar do trem em viagem à aldeia de Ástapovo, onde faleceu no dia 7 de novembro de 1910.
Em forma de romance, Tolstói escreveu a história da guerra de Napoleão Bonaparte contra a Rússia, na qual o militar conquistador, com seu poderoso exército de 600 mil homens, chegaria a Moscou, em 1812, encontrando a cidade vazia, desocupada pela população e por autoridades russas. Daí, em pouco tempo, foi enxotado pelo exército russo, deixando a capital russa incendiada e saqueada. Prédios e palácios ardiam em chamas.
Vencido e derrotado, Napoleão atravessou a fronteira, acossado por tropas russas, deixando para trás grande parte do seu exército, militares desertores, prisioneiros, enfermos e mortos, muitos deles fuzilados, ao longo da estrada coberta de neve e de rigoroso frio abaixo de zero.
Em 18 de junho de 1815, o exército de Napoleão é finalmente derrotado na histórica Batalha de Waterloo, em campos da Bélgica, por tropas estrangeiras, da Inglaterra, Prússia, Áustria e Rússia.
Em 26 de setembro de 1815, a Santa Aliança, de cunho nitidamente político, formada pela Prússia, Áustria e Rússia, reuniu-se em Paris e pôs fim ao império napoleônico.
Depois da derrota na Batalha de Waterloo, Napoleão foi levado preso por tropas inglesas à ilha de Santa Helena, uma colônia inglesa no atlântico sul, onde faleceu em 1821.
Maceió, junho de 2021.
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