OS SERMÕES DE PADRE VIEIRA

Djalma Carvalho

Levei um bom tempo para concluir a leitura de Sermões Escolhidos (Editora Martin Claret, 4ª edição, São Paulo, 2011), de autoria de padre Antônio Vieira (1608-1697), notável orador sacro, prosador e vigoroso pregador da fé cristã.
Padre Antônio Vieira é considerado um dos mestres da Língua Portuguesa e do latim clássico, filósofo, de linguagem erudita, de clareza e rigor sintático-dialético, qualidades com as quais encantou plateias na Europa, no Brasil e por onde andou.
Sobre esse gigante da oratória sacra, Taís Gasparetti, professora graduada em Letras pela Unicamp, que fez a Introdução dessa obra literária, disse: “O seu estilo é vigoroso e lógico, rico em paradoxos e efeitos persuasivos que transcendem o virtuosismo barroco, conduzindo à reflexão sobre fenômenos sociais e existenciais.”
Nos oito capítulos do livro, o leitor encontrará longos sermões, da página 31 à de número 229, construídos em português erudito, clássico, com citações, em latim, de textos de evangelistas e de santos doutores da Igreja, com traduções e imediatos comentários. Referidos sermões foram quase todos pregados por Padre Vieira em Capelas Reais portuguesas, em Lisboa.
Diversas obras literárias têm Vieira como escritor barroco. Certo que o barroco nasceu na Itália no final do século XVI (1580) até o final do século XVIII (1750) e sucedeu ao Renascimento, movimento artístico e científico que pretendia o retorno à Antiguidade Clássica.
Diferentemente do que disse a citada professora, o gramático Artur de Almeida Torres, assegurou que o barroco tem estilo verbal pomposo, de expressões suntuosas, prolixas, abundantes em imagens literárias, jogos mentais, paradoxos; estilo de difícil compreensão, ataviado, rebuscado, pretensioso, confuso, afetado e alambicado.
O estilo de Vieira, como se disse, é diferente, de fácil compreensão, de português castiço, lógico. Ainda opinião de Artur de Almeida Torres: “É inegável é que poucos escritores se lhe podem comparar na riqueza de imaginação e na propriedade do vocabulário.”
Citando em latim, São Paulo, apóstolo, disse: “O pregador há de saber pregar ‘com fama e sem fama’.” E acrescentou: “Somos médicos das almas.”
Padre Vieira nasceu em Lisboa, e aos seis anos de idade mudou-se para o Brasil, fixando-se em Salvador. Homem inteligente acima da média, filósofo, pregador fantástico, porém de vida atribulada. Ordenado sacerdote em 1635, pregou nas aldeias indígenas baianas. Amigo de D. João IV (1640-1656), regressou a Portugal em 1641. Voltou ao Brasil em 1653. No Maranhão, lutou contra a exploração dos índios, incomodando os senhores de escravos. Em seguida, em 1665, retornou a Portugal. Perseguido, foi preso pelo Tribunal da Inquisição, acusado de herege. Anistiado, mudou-se para Roma, onde passou a combater a Inquisição com todo seu talento. Em 1675, retornou a Portugal, sem apoio político e decepcionado com a Igreja. Em 1681, voltou para a Bahia, onde faleceu em 1697, em Salvador.
Finalmente, segundo a professora e biógrafa Taís Gasparetti, a obra literária de padre Antônio Vieira está calculada em mais de 200 sermões, cujo pensamento continuará a ultrapassar séculos e mais de séculos.
Maceió, março de 2024.

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