O PRÉDIO DOS CORREIOS

Djalma Carvalho

Recordo-me daquela reunião ordinária da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes, realizada em 24 de julho de 2019, em que se tratou, entre outros assuntos de pauta, da preocupação dos acadêmicos com a preservação do patrimônio histórico de Santana do Ipanema, no que se refere a prédios e edifícios antigos da cidade, muitos dos quais desfigurados e outros tantos, infelizmente, já demolidos.
Lamentou-se, na ocasião, a falta de órgão especializado na prefeitura municipal, encarregado da preservação desses bens históricos, talvez por desconhecimento da existência do Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, criado pela Lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937. Aliás, a Constituição de 1988, em seus artigos 215 e 216, reconhece a existência de bens culturais, material e imaterial, bem como formas de preservação desse patrimônio, por meio de registro, inventário e tombamento.
A propósito do importante assunto, formou-se, então, uma comissão de acadêmicos, chamada “Comissão Memória e Patrimônio Histórico”, para estudar o plano diretor da cidade e oferecer sugestões ao prefeito municipal, para a efetiva preservação do patrimônio histórico de Santana do Ipanema, à vista, claro, das citadas disposições legais.
Pois bem. Uma vez constituída a comissão, o confrade João Neto Félix Mendes, um dos seus ativos membros, ganhou o campo e logo começou a trabalhar por conta dessa atribuição a ele conferida. Elogiosamente e com bastante sucesso, ele vem publicando a série “Conhecer o Patrimônio Cultural Santanense”.
Trata-se, é bem verdade, de resultado de penosa pesquisa, na qual o autor ressalta os valores históricos desse rico patrimônio, sua origem e data de construção, dados que a sociedade santanense e sua mocidade estudiosa deverão estudar e conhecer, para preservá-los. Cada prédio ou monumento, em Santana do Ipanema, no Brasil afora e no exterior, tem sua história.
Em prosseguimento da sua série ou desfile de imóveis antigos da cidade, merecedores de destaque e atenção por seus valores históricos, João Neto publicou em 19/12/2020, na página virtual da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes, fotos e legendas alusivas ao novo prédio dos Correios de Santana do Ipanema, inaugurado em 1954, com a presença do governador Arnon de Melo, prefeito Adeildo Nepomuceno Marques, padre Luís Cirilo e demais autoridades.
Sobre a data da construção desse prédio, dizia-me João Farias Filho, de saudosa memória, santanense e colega do Banco do Brasil, que, ele mesmo e ainda jovem, colocara no meio da estrutura de uma das colunas de cimento, da referida construção, uma papeleta com os seguintes dizeres: “Neste ano de 1945, o Brigadeiro será eleito presidente do BrasIl.” Claro que errara no palpite, pois o eleito fora Eurico Gaspar Dutra, com larga margem de votos, com mandato para o período de 31/1/1946 a 31/1/1951.
Antes, entre 1952 e 1954 – quando eu já me entendia por gente – a agência dos Correios em Santana do Ipanema funcionava, precariamente, na esquina do Beco de São Sebastião, vizinha à “Farmácia Vera Cruz”, de Alberto Agra, na Praça Coronel Manoel Rodrigues da Rocha, no centro da cidade. Referida e antiga agência tinha, então, como chefe Dona Clotilde Queiroz, senhora bastante idosa e que me parecia estar sempre de mau humor.
Afinal, a título de informação histórica, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – a ECT – foi criada no Brasil com o nome de Correio-mor em 25 de janeiro de 1663. Agora, acaba de completar 358 anos de existência.
Infelizmente, já se aponta o perigo de privatização desse patrimônio nacional, que, no início de 2008, possuía o contingente de 109 mil empregados, afora os terceirizados. Suas agências alcançavam, à época, todos os municípios brasileiros, prestando serviço às mais longínquas populações.

Maceió, fevereiro de 2021.

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